Extração madeireira criteriosa poupa biodiversidade, diz estudo

A Amazônia não precisa ser transformada numa gigantesca e intocável reserva florestal para que sua biodiversidade seja preservada, sugere um novo estudo. A extração de madeira, se feita de forma criteriosa e com baixo impacto, aparentemente afeta muito pouco a riqueza de espécies e a quantidade de invertebrados e vertebrados da maior floresta do planeta.

As conclusões vêm de um levantamento feito por pesquisadores do Ipam – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia em três fazendas do Pará. “O importante desse trabalho é que ele mostra uma alternativa econômica para a Amazônia baseada no manejo florestal, algo melhor do que simplesmente fazer um corte raso na floresta e colocar gado em cima”, declarou à Folha a bióloga Claudia Azevedo-Ramos, coordenadora de pesquisas do Ipam.

O estudo de Azevedo-Ramos e seus colegas Oswaldo de Carvalho e Benedito do Amaral está na edição deste mês da revista científica “Forest Ecology and Management”. Nas três fazendas que eles estudaram, tocadas por duas companhias madeireiras, a exploração da floresta fica, em média, por volta dos 19 metros cúbicos por hectare, índice baixo para matas manejadas na Amazônia.

“Trata-se da primeira avaliação do efeito da exploração madeireira com técnicas de impacto reduzido sobre a fauna amazônica realizada em larga escala, num total de 23 mil hectares, e no “mundo real”, isto é, em área de exploração comercial”, afirma a bióloga.

Além da retirada modesta (equivalente a duas ou três árvores por hectare), esse tipo de exploração também pressupõe um inventário detalhado das árvores da propriedade, a retirada prévia de cipós e o planejamento das estradas. Adotando esses cuidados, a empresa tem direito a um selo ambiental, que permite alcançar mercados diferenciados.

Treino intensivo – Para ampliar ao máximo o alcance da pesquisa, a equipe treinou os mateiros das próprias fazendas para recolher dados. Muitos já tinham conhecimento apurado da fauna da região. Os invertebrados (formigas e aranhas) foram recolhidos em armadilhas cheias de uma mistura de álcool e detergente, enquanto os vertebrados (aves e mamíferos) tinham suas aparições anotadas pelos mateiros. A abundância e variedade de espécies foi registrada antes do corte seletivo e seis meses depois dele.

O resultado foi dos mais animadores: das espécies originais, poucas (entre 3% e 15%) não apareciam no local depois do corte, e o número total de espécies chegou a aumentar para aranhas, formigas e aves.

“De certo modo, isso não é tão absurdo quanto parece, porque as espécies associadas a clareiras ou à borda da mata passam a ter mais ambiente disponível”, diz o biólogo Alexandre Padovan Aleixo, especialista em ecologia de aves do Museu Paraense Emílio Goeldi. Para ele, porém, o aumento de diversidade pode não ser necessariamente bom. “É preciso cuidado. Você pode perder justamente as espécies endêmicas (exclusivas de determinado lugar), que não sobrevivem na região perturbada.”

Ele aponta também as condições ideais das regiões estudadas, onde a área explorada está cercada por mata virgem. Isso permitiria que animais das regiões vizinhas recolonizassem facilmente o trecho em que houve derrubada. “Será que isso é sustentável, até do ponto de vista econômico? Ainda é cedo para dizer”, afirma ele.

Para Azevedo-Ramos, a viabilidade econômica desse tipo de exploração tem de ser ressaltada. “O gasto inicial exigido para planejar a exploração é maior, mas depois disso a empresa sabe exatamente onde estão as árvores mais valiosas e as explora com mais precisão.” (Reinaldo José Lopes/ Folha Online)