Bactéria possui o genoma mais “enxuto” da natureza

Pesquisadores no Japão, na Espanha e nos EUA mostraram que dois seres vivos têm uma quantidade tão pequena de material genético que praticamente vão desaparecer.

Mas essas duas bactérias vão deixar o mundo dos organismos vivos de forma distinta. Uma será incorporada pelas células do inseto em que vive, como se fosse um órgão. A outra poderá será extinta.

As equipes de cientistas seqüenciaram o material genético, o DNA (ácido desoxirribonucléico), de duas bactérias que vivem dentro de insetos em simbiose – isto é, o animal e o micróbio vivem associados, no caso com vantagens mútuas.

Segundo o pesquisador Siv Andersson, da Universidade de Uppsala, Suécia, comentando os estudos publicados na edição de hoje da revista científica “Science” (www.sciencemag.org), estima-se que em torno de 10% das espécies de insetos tenham “fazendas” internas de bactérias simbiontes que produzem nutrientes essenciais, os quais a dieta do animal é incapaz de suprir.

É o caso da bactéria Carsonella ruddii, que vive dentro de insetos que se alimentam de seiva de plantas, popularmente conhecidos como pulgões. O estudo foi feito por Atshushi Nakabachi, do Instituto Riken, Japão e seis colegas, incluindo o pessoal da Universidade do Arizona, EUA. Os pesquisadores descobriram que o genoma da Carsonella ruddii tem apenas 160 mil pares de bases químicas de DNA – como comparação, o ser humano tem três bilhões dessas bases.

A bactéria tem apenas 182 genes (contra 25 mil do homem). É o menor conjunto de genes em um organismo celular (fora os vírus, que não são considerados vivos).

Trata-se de um genoma bem “enxuto”, com quase nada do chamado “DNA-lixo”, não ligado diretamente a genes. Mas a Carsonella ruddii, segundo os cientistas, não tem genes responsáveis por várias funções importantes de um ser vivo.

Isso indica que essas funções estão sendo supridas pelo genoma do inseto. Com a perda progressiva de genes, a bactéria tornar-se-ia uma organela do pulgão, deixando de ter identidade própria.

O genoma da Buchnera aphidicola, outra simbionte dos pulgões, é um pouco maior – 420 mil pares de bases de DNA, codificando 362 genes -, e foi seqüenciado pela equipe de Vicente Pérez-Brocal, da Universidade de Valência, Espanha, e mais oito colegas.

Mas ela corre risco de desaparecer, pois além de não produzir certos nutrientes de que o inseto precisa, está sofrendo forte concorrência de outras bactérias mais capazes.

A bactéria Buchnera aphidicola tem sido passada de geração para geração de insetos por centenas de milhões de anos. No processo, ela perdeu 75% do seu genoma ancestral. Estima-se que ela perca um gene a cada cinco ou dez milhões de anos. (Ricardo Bonalume Neto/ Folha Online)