“Os fazendeiros de Goiás estavam interessados na abelha africana por causa da produção de mel, então eles me pediram para trazê-las”, lembra-se Kerr, hoje professor da Universidade Federal de Uberlândia. A viagem marcaria a introdução de uma nova subespécie no país.
Na volta, por problemas logísticos, os insetos trazidos da África – na viagem o geneticista passou por Angola, Moçambique e África do Sul -, não puderam ficar na Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Eles foram colocados em uma mata, a 20 quilômetros de Rio Claro (SP). E, por um descuido meu, 19 abelhas, das 44 que estavam lá, enxamearam [formaram enxame]”, diz Kerr.
Em um único vôo nupcial, uma fêmea é fecundada por 18 machos. E foi o que ocorreu. “A espécie trazida da África cruzou com machos da mesma espécie, mas que haviam sido trazidos da Europa”, explica Kerr. A prole oriunda desse vôo mostrou um comportamento bem mais agressivo. Por causa disso, ela recebeu o apelido de assassina. Alguns anos depois, essa variedade se espalhou pelo resto das Américas – eliminando daqui a A. mellifera pura.
“O gênero Apis é provavelmente asiático, mas a espécie mellifera pode ter surgido na África’, explica Kerr. É exatamente essa a conclusão do trabalho realizado por Charles Whitfield, da Universidade de Illinois, e colaboradores. O artigo, publicado hoje na “Science”, aborda a migração das abelhas a partir dos dados de seu genoma.
A hipótese é que a Apis mellifera surgiu na África e teve duas ondas migratórias inicialmente. Uma para o oeste e o norte da Europa e outra para a Eurásia. A “terceira” onda ocorreu por mãos humanas e veio dar no Brasil, onde surgiu a abelha “assassina”.
(Fonte: Folha de S. Paulo)