Não adianta mostrar para o ser humano uma banana em tons de cinza. Desde que essa pessoa já tenha visto a fruta com sua marcante cor amarela, ela praticamente não vai enxergar o objeto de outra maneira.
Essa percepção natural das cores, guardada na memória cerebral, acaba de ser decifrada por um estudo realizado na Universidade de Giessen, na Alemanha. O trabalho está publicado na edição mais recente da revista científica “Nature Neuroscience”.
“Quando nós vemos uma banana, na maioria dos casos, ela é amarela. Essa associação forte forma o que chamamos de memória colorida, que fica registrada em uma parte do córtex cerebral”, explicou Thorsten Hansen, o primeiro autor do trabalho alemão, à Folha. O estudo é assinado por outros três pesquisadores que também são da Alemanha.
Por causa disso, ao enxergar novamente a fruta, existe uma espécie de retroalimentação dessa informação que é somado àquilo que os olhos estão realmente enxergando. “Então, a banana acaba aparecendo mais amarela do que nunca para aquela pessoa”, disse. Isso tanto é verdade, que o experimento realizado com estudantes alemães produziu fatos bastante inusitados.
Todos os 14 participantes foram convidados a ajustar a tela de seus computadores, onde aparecia a banana amarela, de modo que a figura ficasse preta e branca. Depois, todos tiveram que mudar novamente as cores para que a fruta voltasse a ter sua cor natural. Resultado. A banana ficou azul.
O cérebro, ao atuar junto com os olhos, acabou processando uma imagem da banana como se ela realmente fosse da cor amarela. Com certeza, essa figura já estava guardada na memória das pessoas.
“Isso porque, no início do segundo experimento, o cérebro enxergou a fruta amarelada e não preta e branca”, explica Hansen, que é ligado ao departamento de Psicologia da instituição de ensino alemã.
Segundo o cientista, a partir de agora, as teorias existentes que estudam o processo de retroalimentação das informações sensoriais terão que passar a incorporar essa nova descoberta. “Está claro, pelos nossos dados, que existe uma memória das cores que interfere sobre a informação que está sendo captada exclusivamente pelos olhos do ser humano.” Apesar de ter sido feito apenas na Alemanha, com pessoas nascidas naquele país, o estudo deve apresentar os mesmos resultados em outros locais do mundo, segundo o pesquisador. “Uma vez que existe a associação entre a fruta e a cor lá dentro da mente o efeito será o mesmo, independente da cultura ou da nação que esse tipo de experimento seja realizado”, afirma Hansen.
O próprio trabalho já realizado na Europa também detectou a existência de uma forte memória colorida, guardada no cérebro, para outros seis tipos de vegetais. Estão nessa lista a laranja, a cenoura e o pepino, por exemplo.
Em todos os casos, os resultados foram exatamente os mesmos. Primeiro, os participantes tiveram que ajustar a coloração dos objetos para que todos ficassem preto e branco. Na etapa seguinte, quando teoricamente todos deveriam fazer os itens alimentícios voltarem a aparecer como são conhecidos, ocorreu a transformação. Isso porque o cérebro enxergava de uma forma aquilo que os olhos estavam vendo.
“A nossa visão de mundo afeta bastante a nossa percepção visual”, explica Hansen. Para o pesquisador europeu, os mecanismos que determinam a aparência colorida das coisas, que fazem funcionar o sistema visual humano, vai da retina ao córtex cerebral e agora, também, inclui a memória visual que as pessoas têm. (Eduardo Geraque/ Folha Online)