A proteção da biodiversidade nas florestas paulistas não pode se limitar às unidades de conservação. A prioridade devem ser os fragmentos florestais remanescentes espalhados pelo interior do Estado, pois cada um tem composição única de espécies de plantas e animais.
Essa é uma das principais conclusões preliminares do workshop organizado pelo Programa Biota-Fapesp, de 16 a 18 de novembro, em São Paulo. O evento reuniu 130 pesquisadores com a proposta de fazer um mapa que indique as áreas prioritárias para conservação e restauração da biodiversidade no Estado.
Durante o encontro, os especialistas se dividiram em sete grupos temáticos. De acordo com o coordenador do Biota, Ricardo Ribeiro Rodrigues, os resultados, apesar de terem sido trabalhados individualmente dentro de cada grupo, foram convergentes no sentido de apontar as áreas prioritárias para conservação.
“Não temos dúvida de que o processo fornecerá um instrumento para que a Secretaria do Meio Ambiente estabeleça políticas públicas com sólida base científica”, disse à Agência Fapesp.
Os pesquisadores se basearam nos dados do SinBiota – Sistema de Informações Ambientais do Biota e em outras fontes complementares fornecidas pelos parceiros da iniciativa: Fundação Florestal, Instituto Florestal, Cria – Conservação Internacional e o Centro de Referência em Informação Ambiental.
Segundo Rodrigues, o produto final do trabalho coletivo será apresentado em 5 de junho de 2007, Dia do Meio Ambiente. “Concluímos que o banco de dados poderá ficar ainda mais completo com dados obtidos por pesquisadores que estavam presentes no workshop, mas que ainda não foram integrados. Essa complementação será feita até 15 de março. A partir daí serão gerados os mapas de áreas prioritárias, a serem divulgados em junho”, disse.
Sistema de conservação – Para Rodrigues, que também é professor titular do Departamento de Ciências Biológicas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo, a conclusão mais importante do processo foi a de afastar definitivamente a idéia de que os fragmentos florestais seriam áreas de pouca importância para a biodiversidade.
“Mesmo onde a matriz é agrícola, eles são importantíssimos para a conservação da biodiversidade remanescente. Efetivamente, não vamos conservar nossa biodiversidade apenas dentro das unidades de conservação. Isso foi um consenso entre todos os grupos”, disse.
As conclusões, segundo Rodrigues, reforçam a necessidade de desenvolver um sistema de conservação eficiente da biodiversidade no Estado. “O sistema deve envolver inclusive os fragmentos nas propriedades rurais, dentro do sistema de produção, para que eles colaborem na conservação”, afirmou.
Para isso, será necessário o desencadeamento de uma política urgente de conservação usando estratégias do tipo reserva legal dentro das propriedades ou reserva particular do patrimônio natural, por meio das diferentes categorias de unidade de conservação.
“A idéia, em termos de restauração, é que esses fragmentos sejam interligados por meio de corredores ecológicos num programa estadual de recuperação de matas ciliares. Ou seja, é preciso fazer com que as matas ciliares funcionem na paisagem como elemento de ligação entre esses vários fragmentos, dando a eles maior peso de conservação, já que estarão interligados num grande sistema de conservação estadual”, disse.
Rodrigues aponta que o poder público dificilmente poderá ignorar o novo instrumento de políticas públicas que ficará disponível a partir de junho. “Em toda a proposta de construção desse mapa, o principal parceiro é a Secretaria de Meio Ambiente. As informações serão um instrumento efetivo para que a secretaria possa decidir, mesmo porque são dados de peso, gerados em projetos de pesquisa”, afirmou. (Fábio de Castro/ Agência Fapesp)