Com o objetivo de mapear os índices de desnutrição e obesidade nos jovens paulistas e propor políticas públicas de saúde para diminuir a prevalência desses problemas, uma pesquisa avaliou 9.720 alunos da rede pública de ensino da cidade de São Paulo, entre 11 e 18 anos.
Dentre os escolares avaliados, metade do sexo masculino e metade do feminino, 11% dos meninos apresentaram desnutrição leve ou moderada e 14% algum grau de obesidade. Os índices entre as meninas foram de 12,7% e 14,9%, respectivamente. Com relação às faixas etárias, a maior prevalência de alteração do estado de nutrição ocorreu nos escolares de 11 anos de idade.
O trabalho começou em 2005, quando mais de 300 professores foram capacitados em três edições de um curso ministrado gratuitamente pelo projeto Aene – Avaliação do Estado de Nutrição de Escolares, do Neobe – Núcleo de Estudos sobre Obesidade e Exercícios Físicos da USP – Universidade de São Paulo.
“De acordo com o currículo escolar, periodicamente o aluno deve ser pesado e medido para que o estado de nutrição dos indivíduos seja analisado de maneira simplificada”, disse Cláudia Cezar, pesquisadora responsável pelo trabalho e coordenadora do Neobe/USP, à Agência Fapesp.
Segundo ela, em geral os professores fazem esse tipo de avaliação no início do ano letivo, apesar de obrigatoriamente não terem que se aprofundar nos cálculos que levam à identificação de alunos obesos ou desnutridos.
“Além do peso e da estatura, nesse caso o sexo e a idade dos alunos devem ser levados em conta para a criação de uma tabela individual de biometria, que é o foco do projeto Aene”, explica a pesquisadora.
Depois de serem diagnosticados pelo projeto, os alunos em risco de obesidade e desnutrição passaram por tratamentos específicos em postos de saúde da capital paulista e os pais foram alertados para o problema. Cláudia ressalta que, apesar de o índice de obesidade do estudo ser baixo do ponto de vista epidemiológico, quando comparado a países como os Estados Unidos o Brasil necessita de políticas de saúde que interfiram na educação alimentar dos jovens.
“A prevenção, com a prática regular de exercícios físicos e a alimentação saudável, é a palavra-chave para não chegarmos a índices alarmantes. Quando os adolescentes receberam a informação, a maioria não imaginava que poderia ter o problema, pois a família toda apresentava o mesmo perfil de obesidade ou desnutrição. E o grande problema é justamente quando os indivíduos encaram a questão com normalidade”, aponta.
Os resultados do trabalho foram apresentados na tese de doutorado Avaliação do estado de nutrição de escolares do município de São Paulo: uma experiência multidisciplinar envolvendo professores de educação física do ensino fundamental e médio, que Cláudia defendeu no Programa de Pós-Graduação Interunidades em Nutrição Humana Aplicada (Pronut) da USP.
Educação física em aulas teóricas – Os professores que participaram dos cursos do projeto foram capacitados para implantar técnicas de avaliação do estado de nutrição dos escolares, coletar dados antropométricos de seus alunos, apresentar resultados e sensibilizar pais e responsáveis para a busca por tratamentos, quando necessário.
“Os professores passam a trabalhar a educação física em aulas teóricas, onde são discutidos conceitos de beleza, estética, saúde e qualidade de vida. A grande vantagem é que o curso ensina técnicas de avaliação e mostra a importância desse tipo de análise, mas os professores ficam livres para criar metodologias próprias e implementar esses conceitos”, disse Cláudia.
Segundo a pesquisadora, umas das diretrizes do projeto Avaliação do Estado de Nutrição de Escolares é criar um sistema de vigilância nutricional de escolares. “Se boa parte dos professores de educação física de São Paulo, que somam mais de 23 mil em escolas públicas e privadas, fosse capacitada, o Estado poderia servir de referência para a adoção de uma política nacional de qualidade de vida entre os estudantes”, aponta.
Para a pesquisadora do Neobe, o Brasil é carente de estudos que dimensionem a obesidade e a desnutrição infantil de maneira regular. “Se o professor de educação física passar a fazer essa avaliação de maneira sistemática, teríamos um mapa anual com as principais características do problema.”
A quarta edição do Curso Aene Bem Viver para professores da capital paulista está com as inscrições abertas. O curso é gratuito e estão sendo oferecidas 450 vagas. As aulas ocorrerão uma vez por semana entre os meses de março e novembro. O prazo para as inscrições terminam no dia 28 de fevereiro. (Thiago Romero/ Agência Fapesp)