Macaco que se abraça não briga, diz estudo

Dois bandos de macacos do México podem ajudar a explicar um dos mais curiosos e disseminados costumes humanos: cumprimentar os conhecidos. Segundo um casal de pesquisadores, os bichos também adotam a prática, a qual desempenha a importante função social de reduzir os conflitos dentro de cada grupo. Um rápido abraço parece bastar para aliviar as tensões e evitar que a vida em bando gere brigas.

A tese da dupla formada pelo italiano Filippo Aureli e pela americana Colleen Schaffner, que são marido e mulher e trabalham no Reino Unido, está numa edição recente da revista científica britânica “Biology Letters”. Eles estudam há anos os macacos-aranhas (nome científico: Ateles geoffroyi) que habitam uma floresta em volta do lago de Punta Laguna, na região mexicana do Yucatán. Foi entre os mesmos bichos que o pesquisador italiano revelou, há pouco tempo, a existência de “guerras” – comportamento documentado apenas entre humanos e chimpanzés antes disso.

Da mesma forma que os humanos e vários outros grupos de animais inteligentes e que gostam de viver em grupo (como outros primatas e golfinhos), os macacos-aranhas mexicanos pertencem a uma sociedade conhecida como de fissão-fusão. Apesar do nome complicado, trata-se de um fenômeno simples e bastante lógico: embora façam parte de uma unidade social relativamente grande, os bichos não passam a maior parte do tempo todos juntos. Preferem se separar em subgrupos menores durante as atividades diárias, voltando a se reunir mais tarde. Daí o nome: fissão (a quebra em subgrupos menores) e fusão (quando os subgrupos se juntam de novo).

Há indícios de que o sistema seja uma forma de aliviar tensões, como disputas em torno de comida ou parceiros ou conflitos em torno de que direção seguir na mata, entre outras coisas. “E nós achamos que essas mesmas razões podem criar tensões e conflitos quando os subgrupos se fundem de novo”, explicou Aureli ao G1.

Para comprovar essa tese, os pesquisadores observaram nada menos que 195 “eventos de fusão”, em que os subgrupos se encontravam na mata. Uma coisa os pesquisadores já sabiam: interações de qualquer tipo (amistosas ou agressivas) tendiam a se concentrar pouco antes da fissão e logo depois da fusão dos subgrupos.

Ao registrar o comportamento dos bichos após a fusão, os pesquisadores descobriram que a ocorrência de abraços entre pares de invidíduos (um vindo de cada subgrupo que estava se unindo a outro) teve uma relação direta com a diminuição de brigas. De fato, os 15 pares de indivíduos que se abraçaram durante a fusão não tiveram registrada nenhuma ação agressiva, nem sofreram nada do tipo, durante a hora que se seguiu à fusão. No entanto, quando os mesmos indivíduos não usavam a tática do abraço, muitas vezes acabavam envolvidos em algum tipo de violência.

“Eles não são agressivos todas as vezes que se reúnem, nem se abraçam sempre. Certamente vários fatores influenciam esse comportamento, como a quantidade de tempo que os subgrupos passam separados, ou o tipo de recursos disponíveis quando se encontram”, argumenta Schaffner.

Boa vontade – A analogia com os humanos – como, por exemplo, a necessidade que temos de apertar a mão, abraçar ou beijar pessoas que vemos rotineiramente, mesmo que não nos sintamos diretamente ameaçados por elas – é clara, segundo os pesquisadores. Mesmo que ninguém vá apanhar por não cumprimentar direito outra pessoa – pelo menos nos dias de hoje -, a atitude funciona como lubrificante social.

“Possivelmente, esses abraços desempenham a mesma função que os nossos cumprimentos: mostrar boa vontade e assegurar indivíduos conhecidos de que as intenções são amigáveis, reduzindo a hostilidade. Entre humanos modernos isso não significa diretamente agressividade, mas simplesmente sentimentos hostis que possam limitar a interação e diminuir a tolerância”, afirma Aureli.

A considerável distância evolutiva entre macacos-aranhas e pessoas – supõe-se que a nossa linhagem tenha se separado da deles há 40 milhões de anos – pode indicar, para os pesquisadores, de que cumprimentos símios e humanos se desenvolveram de forma independente. “Parece haver uma convergência dessas interações benignas entre as várias sociedades de fissão-fusão”, avalia Schaffner. (G1/Globo.com)