Um grupo internacional de cientistas descobriu uma nova forma para buscar detalhes sobre civilizações antigas, como os Incas, usando fósseis de ácaros que se alimentam de fezes de lhamas.
Os pesquisadores criaram um sistema para contar o número de fósseis de ácaros encontrados em um determinado local, estabelecendo assim a quantidade de lhamas que existiram no período.
Como as lhamas eram os animais usados pelos incas para o transporte de cargas, é possível assim ter uma idéia melhor dos períodos de maior atividade econômica da civilização.
Apesar de os incas terem desenvolvido uma das mais complexas civilizações da antiguidade, na região andina, eles não deixaram documentos escritos. Até hoje os historiadores conhecem poucos detalhes sobre seu império.
Os pesquisadores da Universidade de Sussex, no Reino Unido, do CNRS, na França e da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, analisaram a lama encontrada no fundo do lago de Maracocha, perto de Cuzco, no Peru.
O local foi escolhido por estar no centro da rede de vias de transporte do antigo império inca, que usava longas caravanas de lhamas.
Variações – Os pesquisadores acreditam que as variações na quantidade de fósseis encontrados sejam diretamente ligadas à quantidade de lhamas no período, o que sinalizaria a movimentação de produtos pelo império.
O estudo observou que o número de ácaros aumentou muito durante o que se acredita ser o ápice da civilização inca, mas caiu após a invasão espanhola, na primeira metade do século 16, que dizimou a população nativa.
Os ácaros voltaram a se multiplicar no final do século 16 e início do século 17, com a introdução de novos animais domesticados, como bodes, ovelhas, vacas e cavalos (cujas fezes também servem de alimento a eles). Essa recuperação foi interrompida novamente no século 17, quando uma praga atingiu a região e matou parte da população rural.
Os resultados observados pelo estudo são confirmados por registros históricos dos espanhóis.
Os pesquisadores querem agora estender a análise para o período pré-inca, sobre o qual não há nenhum tipo de registro. “Até agora, tem sido muito difícil encontrar uma técnica que possa representar as mudanças nos padrões de comércio ou de animais domésticos em um determinado local”, disse o pesquisador Michael Frogley, da Universidade de Sussex.
“A nova metodologia dos ácaros pode ter aplicações maiores para entender todo o tipo de alterações culturais. Até mesmo o menor e mais mundano dos animais, como ácaros que comem excrementos, pode abrir uma janela para o impacto que os europeus tiveram quando chegaram ao Novo Mundo”, disse. A pesquisa foi publicada na revista Journal of Archaeological Science. (BBC Brasil/ Estadão Online)