A partir da combinação de diferentes indicadores biológicos colhidos em bacias hidrográficas da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro, pesquisadores do IOC – Instituto Oswaldo Cruz da Fiocruz – Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, desenvolveram um índice para ser usado na mensuração da qualidade da água em rios.
Segundo o coordenador do trabalho, o biólogo Darcilio Baptista, chefe do Laboratório de Avaliação e Promoção da Saúde Ambiental do IOC, o índice multimétrico é composto por seis medidas biológicas que têm como ponto de partida a presença de organismos aquáticos que vivem nos rios, particularmente insetos.
“Alguns organismos são bons indicadores de desmatamento, outros são muito sensíveis ou tolerantes à poluição. Com base na riqueza total de organismos de um determinado ecossistema, montamos um índice com todos os parâmetros biológicos do rio analisado, para classificação como ‘muito bom’, ‘bom’, ‘regular’ ou ‘pobre’”, disse Baptista à Agência Fapesp.
Para o cálculo, são coletadas nos rios amostras de areia, folhas ou pedras e, no laboratório, são identificados os organismos presentes no material. Uma das medidas biológicas analisadas é o percentual de insetos aquáticos das ordens Diptera (mosquitos), cujas larvas normalmente são resistentes à poluição, e Coleoptera (besouros), em que as espécies costumam ser mais sensíveis à poluição.
“Com o percentual das larvas de mosquitos na amostragem biológica, uma vez que esses insetos são extremamente tolerantes à poluição, temos um bom indicador de que o rio pode estar comprometido ambientalmente”, disse Baptista.
“Com o cruzamento da quantidade de mosquitos encontrados – independentemente do tipo das espécies –, com as outras cinco medidas que compõem o índice, é possível apontar a riqueza da biodiversidade aquática da amostra e indicar a qualidade da água”, afirmou o biólogo.
Em outras regiões – Outra medida utilizada é a porcentagem de organismos que se alimentam de folhas que, ao serem depositadas no fundo do leito, podem indicar o grau de desmatamento das margens do rio. Como a fauna varia de acordo com a região geográfica, as medidas biológicas precisam ser adaptadas a cada local.
“Fizemos esse primeiro levantamento biológico na área central do Rio de Janeiro, mas a idéia é expandir essas medidas para o sul e para o norte do estado”, disse Baptista.
Segundo o pesquisador do IOC, a mesma metodologia pode ser usada em outras regiões, mas, para isso, os pesquisadores precisam analisar se as medidas biológicas usadas para os rios fluminenses terão a mesma eficácia em outros ecossistemas.
“Nesse caso, a metodologia pode ser aplicada com as devidas adaptações. O ideal, como ocorre na Europa e nos Estados Unidos, é que cada estado desenvolva um índice multimétrico específico e faça periodicamente uma intercalibração entre os modelos para verificar o grau de semelhança entre a diversidade de espécies que serão usadas para a análise da água”, ressaltou. (Agência Fapesp)