Casas precárias, jovens curiosos e adultos desconfiados com a presença de quaisquer estranhos, comércio amontoado nas calçadas.
A cidade foi o local escolhido para o acampamento do Exército Brasileiro que será a principal base das equipes da Operação Araribóia. A opção não foi feita por acaso.
“Nesta região estão o maior número de aldeias da Terra Indígena Araribóia e os maiores problemas. Aqui nós temos assaltantes, madeireiros, traficantes e foragidos da Justiça, sendo o maior pólo devastador (do meio ambiente). Já tivemos assassinatos, invasões, índios oprimidos dentro de sua própria terra. O acampamento visa garantir aos índigenas das proximidades uma paz duradoura”, explicou à Agência Brasil o coordenador da equipe de campo da Funai – Fundação Nacional do Índio, José Pedro dos Santos.
Já chegaram ao acampamento de Arame 60 homens da Força Nacional de Segurança, boa parte deles do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Maranhão. O chefe do grupo, capitão Fábio Aurélio Saraiva, diz que o objetivo é evitar manifestações ofensivas dos madeireiros da região contra os agentes de fiscalização.
Sete serrarias foram lacradas na cidade, acusadas de explorar ilegalmente madeira da reserva indígena. “A doutrina é primeiro negociar, mas podemos usar a força prevista em lei para manter a tranqüilidade e a calma, se necessário. Estamos preparados para ficar o tempo que for necessário”, avisou o capitão.
A Operação Araribóia combate a extração ilegal de madeira, os incêndios criminosos e as plantações de maconha na terra indígena de mesmo nome. O “QG” principal abriga, além do contingente da Força Nacional, 35 servidores da Funai, 30 do Ibama – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, 15 agentesda Polícia Federal e 48 inspetores da PRF – Polícia Rodoviária Federal. Com as equipes de outras bases, já são mais de 200 pessoas envolvidas na Operação Araribóia.
Na reunião de coordenação foi definida como uma das próximas prioridades a erradicação de seis grandes plantações de maconha já identificadas na terra indígena. Segundo José Pedro Santos, o apoio operacional é inédito na história da Funai na região embora há muito tempo necessário. “Nunca teríamos condições de enfrentar um problema dessa magnitude sozinhos”.
Sobre possíveis represálias de madeireiros após o fim da operação, o coordenador da Funai considera importante, além de manter ações preventivas, conscientizar as lideranças indígenas da necessidade de adotar palavras de resistência e evitar negócios com criminosos.
Há cerca de 20 dias, dois índios foram assassinados por homens encapuzados que invadiram uma aldeia para resgatar caminhão carregado de toras de madeira.
“Temos que implantar uma equipe móvel de fiscalização após a operação e fazer um trabalho avançado junto aos índios isolados da etnia Guajá (50 indivíduos, na Terra Indígena Araribóia) , que estão correndo risco de ser dizimados e são alvo de madeireiros. Já colocamos isso como demanda primordial ao presidente da Funai . Assim será possível impedir o retorno dos marginais”, afirmou Santos.
Até o momento a operação contabiliza o fechamento de mais de 10 serrarias em Arame e Amarante, o recolhimento de caminhões e de um trator esteira, multas a fazendeiros e a apreensão e queima de cinco mil pés de maconha e 81 quilos da droga prontos para processamento.Técnicos do Ibama estimam que no mínimo 60% da terra indígena tenha sido alvo de devastação. (Agência Brasil)