Áreas como saneamento básico e tratamento de água não recebem a atenção de algumas prefeituras porque as obras não conquistam votos dos eleitores. A avaliação é do professor de engenharia civil da Universidade Vale do Rio Doce (Univale) Jackson Pereira, um dos participantes da Operação Grão-Pará, primeiro pacote de ações do Projeto Rondon para 2008.
O rondonista acredita que iniciativas sob motivação política prevalecem na região nordeste do Pará. “Infelizmente, rede de esgoto e rede de água não dão voto porque estão enterradas. Agora, posto de saúde dá voto, pavimentar as ruas sem construir sistema de esgotamento sanitário dá voto”, critica.
Segundo ele, algumas equipes tiveram que enfrentar os desafios constatados nas comunidades sem o apoio do poder público local. Pereira conta que, devido ao pouco apoio dos gestores, a própria população da cidade de Nova Timboteua ficou desconfiada.
“A gente tem ideais e quer fazer as coisas melhorarem, mas, muitas vezes, isso confronta com os interesses dos administradores. Ouvimos dos gestores que não precisava de saneamento porque todo dia chove e a cidade é lavada, e que os urubus eram importantes e responsáveis por fazer a limpeza da cidade.”
A Operação Grão-Pará terminou ontem (26). A cerimônia de encerramento contou com a presença de 372 estudantes universitários e 124 professores de instituições de ensino superio, vindos de diversos estados do país. Eles se reuniram-se em Belém (PA) para relatos das atividades desenvolvidas nos municípios paraenses. Ao todo, 33 cidades carentes do interior do estado receberam ações do projeto.
Os municípios que receberam a Operação Grão-Pará foram selecionados a partir de um levantamento dos maiores índices de pobreza e exclusão social. Cada localidade recebeu duas equipes, formadas por dois professores e seis estudantes. Eles permaneceram nos municípios por um período de 15 dias com o objetivo de trabalhar a consciência cidadã, o desenvolvimento local sustentável, o bem-estar e a gestão pública.
Para o estudante da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul, Tiago Borges, a experiência em Concórdia do Pará vai deixar saudades. “Foi um prazer estar aliado com os quilombolas, os assentamentos de produtores rurais, os estudantes, os funcionários públicos, a prefeitura e o governo do estado, que esteve apoiando a gente.”
A aluna da Faculdade Atlântico Sul de Pelotas (Fasp) Daniela Lacerda lembra da estada de 15 dias no interior do Pará com carinho e garante que a experiência vale a pena. “Tivemos um curso intensivo de Brasil.”
Criado em 1967 pelo governo federal, o Projeto Rondon foi suspenso em 1989 e reativado há dois anos. Entre 2005 e 2008, foram realizadas 13 operações, com um total de 4326 rondonistas e 282 municípios atendidos.
O projeto, coordenado pelo Ministério da Defesa, é apoiado por outros sete ministérios: Educação, Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Saúde, Meio Ambiente, Integração Nacional, Esporte e Desenvolvimento Agrário, além da Secretaria-Geral da Presidência da República. A União Nacional dos Estudantes (UNE) também participa da elaboração dos planos.
Em julho, grande parte dos 31 municípios paraenses deve voltar a receber os rondonistas para a Operação Retorno.
Outros 208 estudantes universitários e professores, rondonistas que participaram de atividades da Operação Grã-Pará no estado do Piauí, reúnem-se hoje (27) em Teresina também para o encerramento e balanço das atividades.
(Fonte: Paula Laboissière / Agência Brasil)