UFRJ apresenta fóssil que seria “elo perdido” entre crocodilos atuais e pré-históricos

O fóssil de um crocodilo de 85 milhões de anos foi apresentado nesta (31) como sendo o “elo perdido” entre os crocodilos pré-históricos e os atuais. O animal, que recebeu o nome científico de Montealtosuchus arrudacamposi, foi encontrado em 2004, em Monte Alto, no interior de São Paulo. A pesquisa foi desenvolvida pelo Museu de Paleontologia de Monte Alto e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

De acordo com as reconstituições, que envolveram tomografias e tratamento digital, o animal media cerca de 1,5 metro de comprimento e pesava 40 quilos. Ele tinha pernas longas, e, em vez de habitar os pântanos, como os jacarés atuais, que são passam boa parte do tempo na água, o animal era terrestre e veloz.

“Ele tinha o nariz para frente. Se ficasse dentro da água, teria que ficar com a cabeça levantada, o que o faria uma presa fácil para predadores. Os olhos eram na posição lateral, como os dos animais que andam em terra. Nos jacarés atuais, o nariz é deslocado para cima do crânio, garantindo que fique fora da água”, explicou o paleontólogo da UFRJ Felipe de Vasconcellos. Segundo ele, o esqueleto do fóssil demonstra que o animal era capaz de suportar o próprio peso em terra.

De acordo com o pesquisador, no fóssil foram encontradas características intermediárias entre os crocodilos pré-históricos e os atuais: “A choana (narina interna do animal) não está no final do crânio, como nos crocodilos de hoje, nem era deslocada para frente, como a dos crocodilos na pré-história. No fóssil, ela está numa posição mediana”.

Felipe de Vasconcellos disse ainda que a descoberta poderá fazer com que os cientistas revejam as teorias que colocam a origem dos crocodilos atuais como sendo no hemisfério norte, onde não ainda não foram encontradas espécies “intermediárias” desses animais.

“Os crocodilos atuais tiveram alguma ligação com a parte sul. Talvez a origem dos jacarés que estão no mundo inteiro seja sulista e não da América do Norte ou da Europa, como sempre se imaginou. Eles podem ter surgido na América do Sul ou na África, que eram ligadas. Isso mudaria o pólo de irradiação de uma espécie inteira”, argumentou o pesquisador.

O Montealtosuchus arrudacamposi era um predador que se alimentava principalmente de carne de animais em decomposição, durante o cretáceo superior (cerca de 80 a 85 milhões de anos atrás). O local onde foi encontrado era cenário de secas duradouras, que se revezavam com chuvas esparsas e torrenciais. O clima era seco e quente, com pequenos rios e lagos temporários, e a paisagem era habitada por animais como dinossauros, tartarugas aquáticas e crocodilomorfos (animais em forma de crocodilo) terrestres. (Agência Brasil)