O governador Blairo Maggi chegou a pedir publicamente uma revisão dos números, mas, de acordo com o climatologista do Inpe Carlos Nobre, não há possibilidade de mudança.
“Não é verídico que o Inpe está refazendo os cálculos e que os números vão mudar. Eles foram muito checados antes de sua divulgação,” afirmou Nobre, em entrevista à Agência Brasil. “Estamos colocando os números num contexto mais amplo em relação a anos anteriores, mas isso não é modificação”, acrescentou.
Nobre ressaltou que o Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter) tem méritos e limitações. Sua função não seria calcular as áreas desmatadas com precisão, mas sim indicar locais com sinais de grandes derrubadas de floresta: “O sistema permite passar informações detectadas a cada 15 dias para o Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis] e órgãos estaduais do meio ambiente intensificarem a fiscalização in loco. A ferramenta dá uma idéia aproximada das tendências e, dentro do que ela foi projetada, os números são bastante confiáveis.O alerta é real”.
Pequenos desmatamentos não são identificados pelo Deter. O mínimo é uma devastação equivalente a 10 campos de futebol, disse Nobre. O Deter também não consegue apontar se o estrago na floresta se deu a partir do uso de tratores, motosserras, machados ou incêndios. “O sistema não enxerga o trator abrindo ou o gado lá embaixo, mas enxerga a fisionomia de uma região que antes tinha cobertura vegetal densa e que, numa outra imagem, essa cobertura não está mais lá”.
Carlos Nobre admitiu que um erro técnico no sistema de monitoramento levou à divulgação de dados imprecisos sobre o desmatamento na Amazônia nos meses de junho, julho e agosto de 2007, mas garantiu que a falha foi corrigida e não se repetiu em relação aos últimos meses do ano.
Ele informou que o Inpe pretende estabelecer discussões técnicas com o Ibama e órgãos de estados da Amazônia no sentido de interpretarem corretamente as modificações de uso da terra que estão ocorrendo. O sobrevôo realizado na última semana em Mato Grosso mostrou aos técnicos uma devastação com características pouco comuns até agora.
“Foi encontrado lá um padrão de desmatamento com muitas árvores ainda de pé, a maioria delas mortas, uma ou outra com vegetação, mas embaixo já semeado e com boi. Aquela área não desempenha mais o papel biológico de floresta, não armazena carbono, não mantém biodiversidade. É pastagem com troncos mortos e calcinados em pé”, descreveu Nobre.
“É um novo modo em que a transformação da floresta em outro uso não acontece de uma vez só, depois que o trator passou derrubando tudo. Um processo mais gradual em que a floresta vai morrendo aos poucos quando repetidamente se coloca fogo”, concluiu. (Agência Brasil)