Especialista defende que sedentarismo e fast food aumentam obesidade no país

O aumento da obesidade no país é resultado do sedentarismo cada vez mais acentuado e do aumento da ingestão calórica pela população. A avaliação é do endocrinologista Márcio Mancini, presidente da Associação para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) e supervisor do Ambulatório de Obesidade Mórbida do Hospital de Clínicas da Universidade de São Paulo (USP).

De acordo com o médico, o sedentarismo é fruto de vários fatores, como a violência urbana, que tende a manter crianças e adultos mais “confinados” dentro de casa, e o aumento do conforto gerado pela evolução tecnológica .

“O transporte público, o uso de automóveis, a utilização de instrumentos como telefone sem fio e de aparelhos eletrodomésticos fazem com que as pessoas não precisem despender tanta energia para realizar atividades cotidianas. Isso se reflete até mesmo na indústria. Muitos operários que antes usavam força braçal, hoje, apertam um botão ou fazem movimentos que não envolvem uso de força motora muito intensa” explicou .

Segundo Mancini, a busca pela praticidade e conveniência vem fazendo com que as pessoas condicionem sua alimentação a soluções pouco saudáveis com o aumento na ingestão de calorias. “As pessoas que trabalham tendem a usar cada vez mais alimentos congelados ou comprados prontos, a pedir as tele-entregas, a utilizar praças de alimentação de shopping centers, assimilar hábitos estrangeiros como o uso de fast food. Isso faz com que aumente não só a obesidade e também a gravidade dos casos da doença”, afirmou.

Em entrevista à Agência Brasil, o endocrinologista informou que o Brasil ainda apresenta mais casos de sobrepeso (fase que antecede à obesidade) do que de obesidade mórbida (grave ou de grau três), mas a perspectiva é de inversão desse quadro.

“A tendência é essas pessoas com sobrepeso, com o passar dos anos, tornarem-se indivíduos obesos, então a perspectiva é aumentar a obesidade e o número de obesos mórbidos, e a situação brasileira parecer mais com a de países desenvolvidos, como os Estados Unidos”, defende.

Para o especialista, alterar essa tendência depende de atitudes firmes no sentido de educar para a alimentação saudável, especialmente as crianças, já que a mudança de hábitos em adultos é muito difícil. ”É mais fácil a criança mudar o hábito do adulto a partir da informação. Da mesma forma que elas questionam os pais quando colocam uma [garrafa] pet na rua, por que ouviram sobre reciclagem, podem chamar sua atenção para comer alimentos assados ao invés de frituras, por exemplo. Para isso basta que recebam essa informação na escola”.

O médico avalia que medidas educativas terão de enfrentar a concorrência da propaganda, que estimula permanentemente o consumo de produtos com alto teor de gorduras e açúcares. Ele defendeu a regulamentação das propagandas de alimentos voltadas ao público infantil e a proibição de distribuição de brindes atrelada à venda desses produtos.

Mancini apontou, como alternativa para promover a alimentação saudável, a criação de um selo obrigatório na embalagem dos alimentos, identificando-os como saudáveis ou não, a fim de orientar o consumidor na hora das compras. A medida já é adotada em países como a Suécia.

O endocrinologista destacou o pioneirismo brasileiro que foi o segundo país do mundo (precedido pelos Estados Unidos) a exigir a informação nutricional nos rótulos de alimentos, mas disse que essa prática é, ainda, de difícil compreensão para a população. “Em geral esse rótulo não é observado e quando é, é compreendido por uma minoria de pessoas. Teria que ser uma informação mais fácil”, defendeu.

Uma resolução para regular a propaganda e divulgação de alimentos com quantidades elevadas de açúcar, de gordura saturada, de gordura trans, de sódio e de bebidas com baixo teor nutricional está em elaboração há cerca de dois anos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A proposta de regulamento foi colocada em audiência pública no final de 2006 para apreciação da sociedade e dedicou uma seção específica para a propaganda destinada ao público infantil. Entre outras regras, o documento prevê a proibição da veiculação de publicidade na TV dos produtos em questão das 6 às 21 horas e a obrigatoriedade da inclusão de alertas sobre os prejuízos à saúde causados pelos alimentos, a exemplo do que já acontece com a propaganda de cigarros. Segundo a Agência, o texto final da resolução ainda está em estudo e não há prazo para conclusão.
(Fonte: Adriana Brendler / Agência Brasil)