Os pais que desejam que seus filhos comam alimentos saudáveis devem se preocupar mais em servir uma quantidade extra de frutas e legumes e menos em lhes dar os caros alimentos orgânicos, de acordo com um dos principais especialistas em nutrição do Reino Unido. Lord Krebs, ex-diretor da Food Standards Agency (FSA), disse que as famílias foram se tornando “muito confusas” pelo conflito de mensagens sobre uma alimentação saudável, conforme uma matéria publicada neste domingo, 30, no jornal britânico The Guardian.
O mercado de alimentos orgânicos ultrapassou os 2 bilhões de libras esterlinas (cerca de R$ 6,9 bilhões) no ano passado, com a maior parte dos consumidores de famílias com crianças de idade inferior a 15 anos. Uma média de 37 milhões de libras esterlinas (aproximadamente R$ 128 milhões) é gasto em cada semana com produtos orgânicos, principalmente no sudeste britânico.
A FSA está analisando todas as evidências das diferenças nutricionais entre alimentos orgânicos e não-orgânicos para ver se é preciso alterar as recomendações aos consumidores; atualmente, não há razão em relação à segurança ou a saúde para mudanças na alimentação. Dois estudos recentes, que sugerem que pode haver benefícios para quem consume tomate e leite orgânicos, deu um novo olhar às evidências.
Contudo, de acordo com Krebs, eminente e principal cientista do Jesus College, em Oxford, ainda não existe uma prova confiável e revisada que mostre que há qualquer benefício claro a saúde para quem come os produtos “verdes”.
“A mensagem orgânica pode ser, por vezes, uma distorção das mais importantes mensagens”, disse Krebs. “Se um pai se pergunta ‘como eu posso melhorar a saúde dos meus filhos?’, eles podem pensar, ‘Oh, posso dar comida orgânica a eles’. Mas isso é muito menos importante do que a decisão de alimentá-los com mais frutas e legumes, ou a decisão de lhes dar menos sal”. Segundo o ex-diretor, as preocupações com as declarações feitas sobre produtos orgânicos foram que “eles aumentam a confusão nas cabeças das pessoas do que significa uma alimentação saudável.”
Quando Krebs dirigiu a FSA, ele foi pressionado a declarar que os alimentos orgânicos eram melhores para as pessoas – mas recusou-se a aprovar o produto. No entanto, a Soil Association ainda sustenta que os alimentos “verdes” são melhores para a saúde.
“Existe agora um crescente corpo de provas que mostram diferenças significativas entre a composição nutricional dos alimentos orgânicos e não-orgânicos. Estudos têm mostrado que, em média, os alimentos orgânicos têm níveis mais elevados de ferro, cálcio, magnésio, fósforo e vitamina C”, afirmou um porta-voz da organização
Projeto de pesquisa
Um projeto financiado pela União Européia, envolvendo 33 centros acadêmicos de toda o continente europeu e liderado pela Newcastle University, agora investiga a natureza dos produtos provenientes de técnicas agrícolas orgânicas e não-orgânicas.
Segundo o porta-voz da Soil Association, uma conclusão é clara. “Os alimentos e leite produzidos organicamente geralmente contêm mais compostos benéficos, como vitaminas e antioxidantes. A pesquisa mostra que os vegetais tem até 40% a mais de compostos benéficos e o leite até 90% a mais”.
Porém, Krebs discorda. “Eu acho que proteger os consumidores é contar-lhes a verdade para que possam tirar suas próprias conclusões, através de provas imparciais.”
Segundo um porta-voz da FSA, “o peso das atuais provas científicas não sustenta declarações que os alimentos orgânicos são mais nutritivos ou mais seguros do que alimentos produzidos convencionalmente. No entanto, uma série de novos estudos surgiram recentemente focando as diferenças nutricionais entre os alimentos orgânicos e não-orgânicos.”
(Fonte: Estadao.com.br)