Trata-se de um trabalho que promete ajudar as autoridades sanitárias a preparar melhor a vacina anual contra a doença. O monitoramento já está sendo reforçado em partes do sudeste e leste asiático, na esperança de obter previsões mais precisas de qual será a variedade do vírus que percorrerá os continentes nos próximos anos.
Fora da Ásia, as variedades de gripe não parecem ganhar força à medida que migram entre os continentes.
“Uma vez que o vírus tenha deixado a região, ele está a caminho do cemitério evolutivo”, disse um dos líderes da equipe responsável pelo mapa da gripe, Derek Smith, da Universidade Cambridge. O grupo analisou 13 mil amostras de gripe coletadas ao longo dos últimos cinco anos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) atribui de 250 mil a meio milhão de mortes anuais à gripe. O vírus evolui tão depressa que cepas ligeiramente diferentes circulam a cada inverno, e especialistas suspeitavam, há tempos, que a China é a principal incubadora da doença.
O novo trabalho, publicado na edição desta semana da revista Science, mostra que a evolução anual da gripe é bem complexa.
A cada ano, a Rede Global de Vigilância da Gripe da OMS coleta material do nariz e da garganta de vítimas da gripe em mais de 80 países, a fim de identificar quais variedades do vírus estão em circulação. Os autores da pesquisa na Science selecionaram amostras do subtipo mais comum, uma versão chamada H3N2.
Primeira surpresa: a gripe é um problema de inverno na maior parte do mundo, mas o vírus H3N2 está sempre em circulação em alguma parte do leste e sudeste asiático. Em países tropicais, prefere a estação chuvosa; nas zonas temperadas, prospera em tempo mais frio.
Há sobreposição suficiente entre essas nações de alta densidade demográfica que “o que vemos… são vírus passando de epidemia em epidemia, como corredores de revezamento passando o bastão”, disse o principal autor do trabalho, Colin Russell .
Segunda surpresa: como um relógio, a cada ano novas versões do vírus chegam à Austrália, América do Norte e Europa de seis a nove meses depois de surgirem na Ásia. Vários meses mais tarde, alcançam a América do Sul e se extinguem.
De acordo com Russell, comércio e viagens explicam essa progressão. Há menos linhas aéreas ligando a Ásia à América do Sul que á Europa, por exemplo. Quando o vírus finalmente chega à América do Sul, a tendência é que desapareça, porque o restante do mundo já adquiriu imunidade. O cientista adverte que a áfrica também pode ser uma “linha de chegada” dos vírus, mas não há dados suficientes sobre o continente para permitir a avaliação. (Fonte: Estadão Online)