É a sombra de Júpiter que dá forma à faixa mais externa – e misteriosa – dos anéis do planeta, afirma um trabalho publicado na edição desta semana da revista Nature. Menos conhecidos e certamente muito menos vistosos que os de Saturno, os anéis do maior planeta do Sistema Solar só foram descobertos em 1979, quando as sondas Voyager, da Nasa, passaram por lá.
Cientistas acreditam que os anéis de Júpiter são compostos por poeira espacial e por grãos liberados em colisões de asteróides e cometas com as luas do planeta, e são limitados pelas órbitas de quatro luas – Adrastéia, Tétis, Amaltéia e Tebe.
Essa explicação, no entanto, é incapaz de dar conta da faixa mais externa dos anéis, a chamada extensão de Tebe, um rastro de poeira que se localiza para além da órbita dessa lua – não sendo, portanto, limitado por ela. Os pesquisadores Douglas P. Hamilton, dos EUA, e Harald Krüger, da Alemanha, propõem que é a sombra de Júpiter que leva a poeira para tão longe, com o auxílio do campo magnético do planeta.
A explicação, diz Hamilton, vem do fato de que os raios do Sol arrancam elétrons dos grãos de poeira, dotando-os de carga elétrica. “Essa carga muda na passagem do sol para a sombra”, diz o cientista. “Isso permite que o campo magnético de Júpiter force as órbitas a ficar excêntricas. Sem a sombra, a carga ficaria praticamente constante e as órbitas se manteriam praticamente circulares”.
Júpiter tem um campo magnético dez vezes mais potente que o de qualquer outro planeta do Sistema Solar, diz Hamilton. “O campo é gerado por correntes elétricas na camada de hidrogênio metálico de Júpiter”, explica. “O hidrogênio assume as propriedades condutoras de eletricidade de um metal sob as pressões extremas encontradas no interior do planeta”.
O efeito da sombra foi descoberto graças a dados levantados pela sonda Galileu, da Nasa, que cruzou os anéis de Júpiter durante sua missão para estudar o planeta, que durou de 1995 a 2003, quando foi destruída ao ficar sem combustível.
Entre 2002 e 2003, a sonda passou pelos anéis de Tebe e Amaltéia, registrando o número de colisões sofridas com partículas de poeira e fazendo, assim, um mapa da região.
Os anéis de Júpiter diferem dos de Saturno em composição – rocha, não gelo – e na quantidade de material: “Se todo o material nos anéis de Saturno fosse concentrado em uma esfera, ela teria cerca de 200 km de raio. Para Júpiter, a esfera teria 50 metros”, compara Hamilton. “E esse é o tamanho aproximado de uma única das partículas dos anéis de Saturno”. (Fonte: Estadão Online)