Diante de representantes de 189 países e da União Européia (UE), o ministro do Meio Ambiente alemão, Sigmar Gabriel, disse em seu discurso de abertura que é necessária uma “mudança de rumo”, já que o caminho atual de proteção à natureza “conduzirá ao fracasso”.
Gabriel se disse confiante de que a conferência conseguirá pactuar “decisões ambiciosas” e assegurou que é necessário estruturar com “urgência” o “esqueleto” de um acordo internacional que possa se concretizar em medidas legais no Japão em 2010.
Com o lema “Uma natureza. Um mundo. Nosso futuro”, os seis mil delegados que participam até o dia 30 do encontro enfrentarão, segundo Gabriel, a tarefa de conseguir um consenso que permita avançar na luta contra o desaparecimento das espécies.
O ministro alemão afirmou que será necessário “flexibilizar as posturas” caso se deseje concluir o encontro com um “claro mandato” de futuro.
Gabriel alertou para os perigos que ameaçam a biodiversidade e destacou a extinção das espécies marítimas que, caso o ritmo atual continue, acabará com a pesca comercial em 2050 e, por acréscimo, com o fornecimento de proteínas da parcela mais pobre da população do planeta, que inclui cerca de 1 bilhão de pessoas.
O ministro assegurou que o compromisso pela proteção do meio ambiente não é uma amostra de “ecologismo romântico”, mas uma questão que passa pela própria sobrevivência da humanidade.
Ele explicou que, se as estimativas se cumprirem e a população mundial chegar aos 9 bilhões em 2050, “cada metro quadrado de solo fértil e cada litro de água potável serão necessários” para evitar os “enfrentamentos pelos recursos naturais”.
Gabriel admitiu que um dos temas de debate mais espinhosos da cúpula será a denominada “biopirataria” e as reivindicações dos países em desenvolvimento, que exigem o pagamento de um tipo de royalties por parte das companhias que lucrarem com a comercialização de seus recursos genéticos.
O secretário-executivo da CDB, Ahmed Djoghlaf, destacou o “tremendo valor econômico” da natureza e mencionou dados do estudo “A economia do ecossistema e a biodiversidade”, dirigido por Pavan Sukhdev, que apresentará durante a conferência.
“A receita anual das áreas naturais protegidas são de US$ 5 trilhões frente aos US$ 1,8 trilhão faturados pela indústria automobilística”, explicou Djoghlaf, que destacou que a natureza é a “maior corporação do mundo”, pois 1,6 bilhão de pessoas dependem de seus recursos para sobreviver.
A produção de biocombustíveis, que será discutida pela primeira vez na Convenção de Biodiversidade, despertou hoje as críticas mais severas das ONGs, que exigiram a proibição de cultivos destinados a sua fabricação.
A Aliança para a Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD Alliance) reivindicou que a ONU desautorize essas plantações, por considerar que “exacerbarão a crise alimentícia e terão devastadores efeitos nos povos marginalizados e em grandes ecossistemas.”
A CBD Alliance reúne mais de cem organizações ecológicas, cívicas e indígenas, que também reivindicam a proibição das espécies vegetais invasivas e transgênicas.
A Conferência das Partes é o órgão máximo da CDB, primeiro acordo mundial que aborda integralmente todos os aspectos da diversidade biológica, incluindo desde recursos genéticos até espécies e ecossistemas. (Fonte: Estadão Online)