Foto de índios isolados gera dilema sobre contato com tribos

Fotografias dramáticas de índios da Amazônia antes desconhecidos chamaram atenção do mundo para a situação precária das poucas tribos isoladas ainda existentes e para o perigo com que se deparariam ao eventualmente entrar em contato com o mundo exterior. Os índios constantes das imagens divulgadas na quinta-feira (29), que empunhavam arcos e flechas, seriam provavelmente os membros remanescentes de uma tribo maior que se viu obrigada a ingressar mais profundamente na floresta, montando acampamentos cada vez menores, disseram especialistas.

Em vez de formar uma tribo “perdida”, esses índios devem ter mantido vários canais de comunicação com outros grupos ao longo dos últimos anos, afirmou Thomas Lovejoy, um especialista em questões amazônicas que preside o The Heinz Center, em Washington.

“Acredito haver uma questão ética, a questão sobre se alguém conseguiria, no final, protegê-los de qualquer tipo de contato. E a resposta para isso é ‘não”‘, disse Lovejoy. “A resposta certa é ter um tipo de contato e de mudança de forma que as próprias tribos possam administrar isso.”

A área da fronteira entre o Brasil e o Peru revela-se um dos últimos refúgios do mundo para grupos desse tipo, já que se encontram ali cerca de 50 das cerca de 100 tribos isoladas existentes no mundo todo.

Esses grupos enfrentam um perigo crescente na forma da expansão das fronteiras econômicas, em especial do lado do Peru, que tem demorado mais para criar reservas capazes de proteger as populações indígenas.

José Carlos Meirelles, funcionário da Funai (Fundação Nacional do Índio) que estava no helicóptero de onde foram tiradas as fotos, disse que essa tribo deveria ser deixada isolada o máximo possível.

“Enquanto eles estiverem nos apontando flechas, tudo estará bem”, afirmou ao jornal O Globo. “No dia em que se comportarem direitinho, estarão exterminados.”

Historicamente, o contato com o mundo exterior mostrou-se catastrófico para os índios brasileiros, que hoje somam cerca de 350 mil indivíduos, um número muito menor do que os 5 milhões da época da chegada dos europeus.

“Em 508 anos de história, de milhares de tribos que existem, nenhuma delas adaptou-se bem à sociedade no Brasil”, afirmou Sydney Possuelo, ex-autoridade da Funai que criou o departamento da fundação responsável pelos índios isolados.

Nos últimos anos, porém, tribos como os inanomami conseguiram conquistar uma proteção maior ao tornarem-se mais politicamente organizados e formarem laços com grupos conservacionistas estrangeiros.

“Não se trata de tomar essa decisão no lugar deles. Trata-se de dar-lhes tempo e espaço para que tomem essa decisão por si próprios”, afirmou David Hill, do grupo Survival International.

No Peru, por exemplo, mais de metade dos murunahua morreu em virtude de gripe ou de outras doenças após terem entrado em contato com o mundo exterior pela primeira vez em 1996, como resultado da expansão da fronteira econômica, afirmou Hill.

Ver integrantes de tribos isoladas não é algo muito raro, ocorrendo uma vez a cada alguns anos na área da fronteira entre Brasil e Peru. (Fonte: Estadão Online)