O SAD, sistema não-governamental de alerta de desmatamento da Amazônia, detectou aumento de 10% na devastação ao comparar os períodos de agosto de 2006 a abril de 2007 com agosto de 2007 a abril deste ano. Enquanto no primeiro foi desmatada uma área de 3.473 km2, no intervalo posterior a área foi de 3.849 km2.
Ao comparar somente o primeiro quadrimestre de 2008 com o de 2007, houve um aumento de 42% no desmate.
Esta é a primeira vez que o SAD, criado pelo Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), enxerga todos os Estados da Amazônia. Os dados, obtidos pela Folha, corroboram as informações divulgadas anteontem pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e indicam tendência de alta no desmate.
O pesquisador Adalberto Veríssimo, do Imazon, ressalta que, apesar de terem diferenças, os dois sistemas convergem para identificar tendências – no caso, a de aumento da destruição de floresta. O governo de Mato Grosso, entretanto, questiona os dados do Inpe.
O SAD, porém, também aponta que o Estado é o líder de destruição de floresta neste chamado ano fiscal – o desmatamento é medido de agosto de um ano a julho do ano seguinte -, com 50,7% da derrubada.
Na seqüência está o Pará, com 35,7%. Veríssimo avalia que esse Estado, cuja visualização foi prejudicada por nuvens, pode vir a superar Mato Grosso no acumulado do ano, que termina em julho.
“Em abril conseguimos captar tudo de Mato Grosso, mas o Pará ficou escondido. Há uma boa chance de que o desmatamento no Pará cresça e chegue próximo ou até supere Mato Grosso. A curva do Pará é ascendente e o do Mato Grosso é de ligeira queda”, disse Veríssimo.
Para Sérgio Leitão, do Greenpeace, uma conjunção de fatores viabiliza a tendência de alta do desmatamento: aumento do preço dos alimentos, frouxidão política do governo e plano de combate ao desflorestamento com coordenação esquizofrênica. “Toda a sinalização que o governo dá é a seguinte: desmate que o governo garante”, afirma.
Mauro Armelin, do WWF, afirma que é preciso valorizar as ações anunciadas pelo governo, mas a tendência de alta mostra que elas estão sendo pouco implementadas. “Uma vez que o desmatamento toma uma velocidade, leva dois a três anos para brecá-lo.”
O SAD detectou 156 km2 de desmatamento no último mês de abril, contra 106 km2 em abril de 2007 – um aumento de 47%. Das 20 cidades que mais derrubaram mata neste ano fiscal, 12 são mato-grossenses. Mas a líder em desmate é do Pará: São Félix do Xingu.
O SAD mostra, ainda, que foram desmatados 272,7 km2 em áreas de assentamentos neste ano fiscal. O Imazon também considera preocupante que em unidades de conservação, protegidas por lei, tenham sido observados 255 km2 de derrubada no período. As terras indígenas tiveram 197 km2 de desmate.
Diferenças – Assim como o Deter, do Inpe, o SAD é um sistema de alerta que usa imagens dos satélites americanos Modis. Entretanto, enquanto o primeiro capta corte raso de floresta e também degradação florestal, o segundo detecta somente corte raso.
Em razão disso, há diferenças grandes nos números divulgados pelos dois sistemas. O Inpe, por exemplo, anunciou que o desmatamento de abril foi de 1.123 km2 e o do período agosto de 2007 a abril de 2008, de 5.850 km2.
Para Veríssimo, como agora estão claras as diferenças dos dois sistemas, não há disputa. “São diferentes sistemas que geram dados mensais e que são são termômetros para medir a febre que é o desmatamento”, afirma. A partir de agosto o SAD também terá dados de corte seletivo de madeira, que nenhum sistema do gênero detecta. (Fonte: Folha Online)