Líder indígena diz que matar pessoas com deficiência não faz parte da cultura xavante

A hipótese de que o assassinato da índia Jaiya Xavante tenha sido cometido por uma tia da adolescente, levantada por uma fonte da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), “não tem nenhum cabimento” e é uma tentativa da fundação de desviar a atenção das deficiências no atendimento à saúde indígena. A avaliação é do líder xavante Hiparidi Top’tiro, feita no domingo (29), em entrevista à Agência Brasil.

“Não faz parte da nossa cultura matar pessoas com deficiência física, estão dizendo que isso é um ritual nosso. Isso seria impossível na nossa cultura. Essa hipótese não tem nenhum cabimento na nossa estrutura social. Não tem nenhum respaldo antropológico”, afirmou Top’tiro.

De acordo com Top’tiro, a criação das crianças xavante não é restrita aos pais, mas compartilhada com avós e membros da tribo. Por esse motivo, o assassinato de um xavante por alguém da família “causaria uma instabilidade social na aldeia, uma guerra”.

“Isso é tentativa de desviar foco sem ter conhecimento da nossa cultura. Se a Funasa encontrar um antropólogo que confirme isso, ele vai ter que nos re-ensinar nossa própria cultura”, argumentou.

“A mídia já está condenando a família. Estão tentando associar com o caso dos brancos que mataram a filha”, acrescentou, em referência à morte da menina Isabella Nardoni em São Paulo, que, segundo investigações da Polícia Civil, foi planejada pelo pai e pela madrasta.

O líder indígena informou que organizações xavante pretendem questionar a Funasa, inclusive judicialmente, pelas acusações repassadas à imprensa. Integrantes da Mobilização dos Povos Indígenas do Cerrado deverão percorrer aldeias xavante nesta semana para articular a defesa.

Top’tiro acredita que a investigação da Polícia Civil deverá apontar a família da adolescente xavante como responsável pela morte, porque, segundo ele, “é comum a polícia não ir a fundo em casos como esses, em crimes que envolvem indígenas”.

Na avaliação de líder xavante, o crime foi cometido por algum integrante da segurança da Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai) ou mesmo por algum servidor da Funasa, para alegar insegurança do local e apressar o fechamento da instituição. “Eles querem fechar a casa há tempos. A Funasa reclama dos custos, questiona a vinda de parentes para acompanhar os indígenas em tratamento; não entende nossa cultura”, afirma.

“Se for preciso, vamos acampar em frente ao Ministério da Saúde para exigir solução, não só para esse caso, mas para cobrar respostas sobre a questão da saúde indígena”, adiantou Top’tiro.

Segundo ele, os agentes encaminhados pela Funasa para atendimento de grupos indígenas têm preconceito contra os costumes das comunidades. “Saúde indígena não é uma questão que dependa só de técnica, é preciso ter conhecimento sobre as culturas”, defende. (Fonte: Luana Lourenço/ Agência Brasil)