Os três que ainda estão em sua varanda, e se deleitam em uma piscina de frente para o Cristo Redentor se recuperando da longa jornada que começou no Estreito de Magalhães (Argentina), devem partir com as outras quase cem sobreviventes que estão no Zôo de Niterói (região Metropolitana) rumo ao Centro de Reabilitação de Animais Marinhos (Cram) da Universidade Federal de Rio Grande (RS). A viagem deve acontecer no início de outubro a bordo do navio Ary Rongel, da Marinha do Brasil. No centro serão anilhadas (recebem um anel com numeração) e depois lançadas ao mar para seguir no movimento migratório de volta ao sul.
As aves que partirem do Rio vão se juntar a outras quase 450, das mil encontradas na costa baiana e que sobreviveram. Elas receberam cuidados especiais na ONG Instituto de Mamíferos Aquáticos de Salvador, que montou uma equipe de 30 pessoas para atender os animais. Eles partem no próximo dia 27 num avião Hércules da Força Aérea Brasileira de Salvador para o Cram.
Apesar de serem encantadores, a veterinária do instituto baiano, Raquel Veloso, destaca que não é possível mantê-los em uma casa. “Eles dão muito trabalho, chegam muito machucados, mordidos e rebeldes. Se não tiver muita atenção, morrem”, disse.
Cecília sabe bem o que é isso. “A gente se apega a eles, não tem jeito. Fico muito preocupada que morram na boca de alguma orca ou foca. Mas tenho consciência que não são animais domésticos e que não é possível para qualquer um cuidar deles em casa. A Tutuca chegou aqui com a uma das asas penduradas, teve os sacos aéros perfurados pela mordida de um animal e com menos de um quilo. Foram alimentados primeiro com soro e hoje, que dobrou de peso, já come sardinha e manjubinha. Mas o cocô deles é corrosivo e estraga o chão, eles bicam e não são domesticáveis”, diz ela, que os recebeu de bombeiros que conhecem o trabalho de proteção da ONG S.O.S. Aves.
O veterinário do Cram, Rodolfo Pinho da Silva, que há 20 anos trabalha com os animais que migram do sul no inverno, tranqüiliza Cecília e afirma que apenas os que estiverem com a saúde boa serão liberados no mar. Ele explica que, no inverno, a corrente das Malvinas (que vem do sul do continente) fica muito mais intensa no inverno, trazendo os pingüins. “Depois desse período há um retorno natural das aves às colônias de reprodução, com a diminuição da intensidade dessa corrente”, diz.
Na orla de outros Estados do sudeste e sul também chegaram pingüins este ano. Em Santa Catarina, por exemplo, há atualmente 300 aves sujas de óleo sendo cuidadas por uma equipe do Cram. Quando estiverem saudáveis, também serão levadas para um ponto onde peguem o rumo de casa. (Fonte: Talita Figueiredo/ Estadão Online)