Para competir com estrangeiros, Brasil aposta em rede para células-tronco

O desenvolvimento da primeira linhagem viável de células-tronco embrionárias no Brasil, antecipado na terça-feira (30) pelo G1 , foi só o primeiro passo de um ambicioso plano de pesquisas para desenvolver novas terapias com células no país – mais com sagacidade do que com verbas. É com esse espírito que o governo federal criou a Rede Nacional de Terapia Celular (RNTC).

A idéia é contornar um problema atualmente insolúvel: os recursos que as instituições de fomento podem repassar hoje aos pesquisadores no Brasil é ínfima, perto do que podem investir as nações de primeiro mundo. Para brigar de igual para igual, será preciso, antes de mais nada, inteligência.

Com a formação da rede, a pesquisa brasileira podera tornar os resultados mais eficazes. Uma coordenação maior sobre os diferentes grupos permite evitar sobreposição de esforços e diversificar as linhas de pesquisa na medida certa.

“A concepção da Rede Nacional de Terapia Celular é uma grande idéia”, afirma Lygia da Veiga Pereira, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, líder do grupo que obteve a primeira linhagem brasileira de células-tronco embrionárias. “É o único jeito de competir com pesquisadores estrangeiros.”

Para a pesquisadora da USP, a criação da rede será fundamental para levar as pesquisas até um estágio em que será possível realizar testes clínicos — tentativas de tratar doenças hoje incuráveis.

A rede será conduzida pelos ministérios da Saúde e da Ciência e Tecnologia e não terá um centro físico. Apenas uma comissão de coordenação, com membros dos ministérios, dos financiadores e da comunidade científica.

“A criação da primeira linhagem tem sinergia com a rede. O próximo passo na RNTC será a construção de seis salas limpas (laboratórios com alto controle de ambiente) para desenvolvimento de linhagens a partir de boas práticas de manipulação”, afirma Reinaldo Guimarães, secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde.

“Essas linhagens são necessárias para desenvolver células-tronco com finalidades terapêuticas, para se ter certeza de que podem ser usadas em humanos. Esse passo é extremamente importante para isso”, completa o secretário.

As seis salas limpas, que serão construídas em cidades como Ribeirão Preto, São Paulo e Rio de Janeiro (localidades em que já estão alguns dos principais grupos de pesquisa de células-tronco), sairão a um custo de R$ 11 milhões, obtidos por meio de um edital da Finep.

Na outra ponta – a das pesquisas – o Ministério da Saúde e da Ciência e Tecnologia tem um edital aberto no valor de R$ 10 milhões para projetos em terapia celular, utilizando células-tronco de todos os tipos (adultas e embrionárias). O prazo para inscrição de propostas de estudo vai até o próximo dia 14. (Fonte: Salvador Nogueira/ G1)