O STF retoma nesta quarta-feira (10) o julgamento sobre a validade da demarcação contínua da reserva, como consta no decreto presidencial de 2005. O julgamento foi suspenso em agosto passado por um pedido de vista do ministro Carlos Alberto Direito. Fazendeiros de arroz que ocupam parte das terras se recusam a sair da área. Na véspera da decisão do STF, o clima na reserva é de tensão.
“A gente tem uma Constituição, tem o decreto de demarcação. Se a gente quisesse resolver à força, eles (os fazendeiros) não estavam mais lá. Não vamos aceitar (a permanência de não-índios). Ninguém está aceitando. Isso está muito claro. O STF é o STF, mas a Raposa (Serra do Sol) é terra contínua”, disse Dionito.
O coordenador do CIR afirmou que caso o STF decida pela demarcação em ilhas, como querem os fazendeiros, a possibilidade de confronto é grande, embora ressalte que não é o que os índios desejam. “Aí vai ser culpa do STF, dos invasores, do governo do estado. Se isso acontecer, a Constituição tem quer queimada nesse dia”, declarou.
Dionito afirmou que se o STF determinar que a demarcação deve ser contínua, como querem os índios, vai exigir a saída imediata dos fazendeiros. “Nós temos a Polícia Federal e o Exército. A gente arranca os invasores de lá com metralhadoras.”
Clima tenso – Prefeito de Pacaraima (RR), o arrozeiro Paulo César Quartiero (DEM-RR) afirmou nesta terça-feira (9) que não vai abrir mão de lutar contra a demarcação em terra contínua da reserva Raposa Serra do Sol. Ele é acusado de ter dado ordens para que funcionários de suas fazendas atirassem contra índios que invadiram suas propriedade em maio deste ano.
Quartiero afirmou que não teme ser chamado de terrorista por defender sua “causa”. Quartiero está em Brasília, onde vai acompanhar o julgamento no Supremo. “Se defender o interesse pessoal, o patrimônio, o suor de seu trabalho, o estado de Roraima é ser terrorista, então eu sou terrorista, mas eu vou defender enquanto eu puder”, afirmou o prefeito.
Dionito disse que pretendia pedir à Superintendência da Polícia Federal em Boa Vista providências sobre as ameaças. “Existe a ameaça. O que ele fez foi terrorismo”, afirmou.
Devido ao risco de confronto, o coordenador do CIR disse que não divulgaria sua agenda para esta quarta-feira, por razões de segurança. Ele é esperado nesta quarta na Vila Surumu, porta de entrada da reserva, onde fica a maior comunidade indígena da Raposa Serra do Sol.
Na vila, cerca de 1.500 índios devem se reunir entre o final da tarde desta terça e a manhã de quarta para acompanhar o julgamento. A Polícia Federal, a Guarda Nacional e a Funai (Fundação Nacional do Índio) aumentaram o número de agentes na reserva, mas não informaram quantas pessoas estarão trabalhando para conter eventuais confrontos. (Fonte: Fausto Carneiro/ G1)