A pesquisa, coordenada por Andy M. Reynolds, do Centro de Pesquisas Rothamsted (Reino Unido), está na revista científica internacional “Current Biology”. Eles explicam que os gafanhotos, bem como outros insetos, podem sofrer transformações profundas durante a formação da nuvem. Para pegar o caso mais famoso, o do gafanhoto-do-deserto (Schistocerca gregaria), bichinhos antes relativamente solitários, inofensivos e de coloração verde passam por mudanças fisiológicas que lhes dão uma cor amarelada, uma tendência quase zumbi a se juntar em enormes bandos, movimentos rápidos e aleatórios, sistema imune (de defesa do organismo) mais potente e o hábito de comer plantas tóxicas.
Já se sabe que o “gatilho” inicial da formação das nuvens de gafanhotos é o aparecimento de condições ambientais favoráveis, que levam à proliferação dos insetos. Segundo o modelo matemático desenvolvido por Reynolds e companhia, a chave está justamente nessa fase, em que os indivíduos são abundantes, mas ainda não se juntaram numa nuvem maciça.
Espalhado versus concentrado – Os pesquisadores imaginam um predador (uma ave, digamos) que dê de cara com pequenas aglomerações de gafanhotos espalhadas pela paisagem. Esse seria o melhor dos mundos para o caçador, porque ele poderia comer até se saciar em determinada concentração de gafanhotos, passar para a próxima quando tivesse fome de novo, e assim por diante. Os insetos, abundantes, visíveis e espacialmente distribuídos pelo ambiente, seriam presa fácil.
Uma saída dessa situação nada agradável envolveria justamente a formação da nuvem de gafanhotos. Unidos em bandos gigantescos que voam rapidamente de um lugar para o outro, os insetos estariam dificultando ao máximo a vida de aves predadoras, tornando-se raros tanto no tempo quanto no espaço.
Embora o predador com a sorte de cruzar com uma nuvem tenha à sua disposição um imenso banquete, ele só vai ser capaz de devorar uma quantidade limitada de gafanhotos. Nisso, a nuvem já terá partido. Ou seja, para cada indivíduo que “participa” dela, o risco de ser devorado é, na média, bem menor do que se ele estivesse em meio a uma pequena aglomeração de gafanhotos.
Outros aspectos da vida em nuvem parecem favorecer a defesa contra predadores. A coloração alterada dos insetos imita a de espécies de gosto desagradável ou venenoso, “avisando” aves e outros caçadores de que não vale a pena comer os gafanhotos. E o consumo de plantas tóxicas faz com que essa idéia não seja apenas uma ameaça vazia, já que o estômago dos bichos fica mesmo cheio de substâncias venenosas. (Fonte: Reinaldo José Lopes/ G1)