De acordo com a psiquiatra Célia Lídia da Costa, coordenadora do GAT e autora da pesquisa, isso acontece porque as mulheres têm mais depressão do que os homens e, por isso, estão mais sujeitas aos sintomas de ansiedade.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a depressão atinge duas mulheres para cada homem.
“A mulher normalmente enxerga o cigarro como um remédio, como uma fuga. Ela tem necessidade de fumar para resolver algum problema e o cigarro acaba mascarando os sintomas da depressão. Ela tem um perfil diferente do homem, que normalmente fuma por prazer”, afirma Costa.
Daí surge a principal dificuldade delas para largar o vício – pois, sem os efeitos da nicotina no cérebro, o corpo começa a sentir os sintomas da depressão. Segundo Costa, enquanto os homens param de fumar em cerca de três meses, as mulheres levam pelo menos um ano.
Tratamento diferenciado – Por isso, avalia a pesquisadora, os resultados do estudo apontam para a necessidade de uma abordagem de tratamento diferenciada, especialmente para as mulheres.
“No caso delas, é preciso tratar primeiro a depressão, depois a dependência à nicotina. Nos homens, normalmente a dependência é química, então a gente trata logo a abstinência.”
A cardiologista Jaqueline Scholz Issa, diretora do Programa de Tratamento de Tabagismo do InCor (Instituto do Coração) do Hospital das Clínicas de São Paulo, concorda com o tratamento diferenciado para as mulheres.
Segundo a médica, a prevalência de casos de depressão em fumantes é muito alta –estima-se que 60% das pessoas deprimidas fumem.
“As mulheres precisam ser abordadas e tratadas de forma diferenciada para que o tratamento tenha o mesmo índice de sucesso observado nos homens. Existe uma recomendação do consenso americano para tratamento do tabagismo, publicada em 2008, que considera o sexo da pessoa como fator determinante do tratamento. O InCor já adota essa medida”, afirma.
Issa diz que quase 40% das mulheres que passam por tratamento para parar de fumar no InCor precisam tomar antidepressivos em algum momento. “Se elas não tomam o remédio, ficam desestimuladas a continuar o tratamento e têm recaída. Então a gente prescreve o antidepressivo para a paciente perceber que não é a falta do cigarro que causa a depressão”, afirmou Issa.
Depressão mascarada – A dificuldade no tratamento de fumantes depressivos, explica Issa, surge porque a nicotina mascara os sintomas da depressão. “Quando a mulher tenta parar de fumar, ela acha que está ficando deprimida, quando na verdade ela já estava deprimida e não sabia”, afirma.
Isso acontece porque o cérebro do não-fumante possui receptores de dopamina, acetilcolina e serotonina, que proporcionam sensações de prazer no corpo. Quando uma pessoa começa a fumar, a nicotina “substitui” a ação desses neurotransmissores, que deixam de ser produzidos naturalmente pelo organismo.
“O fumante fica dependente desse mecanismo artificial. A nicotina proporciona um efeito de prazer semelhante. São necessárias, no mínino, 12 semanas para que o organismo volte a produzir (neurotransmissores) naturalmente”, explica Jaqueline Issa.
De acordo com ela e com Célia Costa, depois do tratamento, a neurocaptação volta ao normal em cerca de 70% dos pacientes. “Os outros 30% podem ter recaída”, disse Issa. (Fonte: Fernanda Bbassette/ Ffolha Online)