Anticorpos são moléculas que atuam como soldados no sistema imunológico, atacando corpos invasores. São produzidos aos montes no organismo, mas infelizmente não funcionam bem quando topam logo de cara com o vírus da gripe.
O problema é que o patógeno sofre muitas mutações e interações ao longo do planeta, e quando ele volta a atacar uma pessoa que já havia se livrado dele, os anticorpos não o reconhecem mais. A variedade do vírus que predominou em São Paulo no ano passado pode não ser a mesma do ano que vem.
Um anticorpo que reconhecer uma parte do vírus que nunca se altere e seja capaz de atacá-la, porém, nunca fora visto. Mas isso é o que os americanos do Instituto Scripps e os holandeses da farmacêutica Crucell relatam ter achado agora, parcialmente, em estudo escrito para a revista “Science”.
O curioso foi que esse novo anticorpo especial foi encontrado dentro de um homem comum, que havia recebido apenas uma dose de vacina ordinária contra gripe para protegê-lo de um único subtipo da doença. (Cada tipo de vírus é classificado de acordo com sua hemaglutinina -proteína que reveste sua superfície, da qual existem 16 variedades.)
Usando equipamentos modernos para isolar anticorpos e determinar suas estruturas moleculares, os pesquisadores extraíram uma infinidade de anticorpos do voluntário da pesquisa e montaram uma “biblioteca” de moléculas para testar. O anticorpo que se saiu melhor foi um batizado com o código CR6261. Foi capaz de reconhecer e atacar 12 tipos da hemaglutinina, em uma parte da proteína que não costuma sofrer mutação. Ou seja, o CR6261 nunca “esquece” os vírus de gripe que sabe atacar.
Segundo os cientistas, muitas pessoas podem ter anticorpos com capacidade semelhante a esse, mas seus organismos nem sempre os produzem ou os usam de modo eficiente.
Entre os subtipos do influenza que o CR6261 derrotou está o H5, da gripe das aves -altamente agressivo, mas pouco eficaz em infectar humanos, por enquanto. O H1, um dos que mais circula entre pessoas e responsável pela grande pandemia de 1918, também sucumbiu ao novo anticorpo. Já o H3, uma variedade importante, ainda está fora de alcance.
Mesmo com algumas lacunas a preencher, porém, os cientistas já mostram entusiasmo.
Santa vacina – “Isso marca o primeiro passo na direção do “Santo Graal” da imunização contra o influenza: o desenvolvimento de uma vacina universal de proteção abrangente”, afirmou Ian Wilson, pesquisador do Scripps, em comunicado à imprensa. “Uma vacina assim poderia ser dada a uma pessoa apenas uma vez e agir como um protetor universal contra a maioria dos subtipos de gripe.”
O problema agora será tentar encontrar uma maneira de criar uma vacina que estimule o corpo a produzir o anticorpo correto. Uma outra estratégia seria produzir anticorpos monoclonais –técnica que fabrica anticorpos idênticos em série. Essa abordagem, porém, ainda é cara e pouco prática.
Segundo os cientistas do Scripps, é difícil dizer quão próxima está a vacina definitiva contra a gripe, mas conhecer a estrutura de uma molécula como o anticorpo CR6261 é um passo importante no caminho. (Fonte: Folha Online)