Líder arrozeiro diz que não índios vão resistir para deixar reserva em Roraima

O presidente da Associação dos Arrozeiros de Roraima, Nelson Itikawa, admitiu nesta quarta-feira (28) a possibilidade de haver resistência de não índios em cumprir a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que que manteve a demarcação contínua da reserva Raposa Serra do Sol (RR) e determinou a saída de produtores rurais do local.

Segundo Itikawa, muitas pessoas não têm para onde ir nem dinheiro para pagar a mudança. “Acredito que vai haver resistência porque tem muita gente não vai sair porque não tem para onde ir”, afirmou.

Em março, o ministro Carlos Ayres Britto, do STF, definiu a data de 30 de abril como prazo para que não índios saiam da área da reserva indígena. Ontem, o ministro descartou a possibilidade de prorrogar o prazo para a saída pacífica.

O líder arrozeiro disse ainda que os não índios enfrentam uma situação “estranha” porque oficialmente não foram notificados da decisão do STF para deixar o local. “É uma situação estranha. Como vamos sair daqui (reserva) se não fomos notificados oficialmente”, afirmou.

O STF informou por meio de sua assessoria que que as partes envolvidas no processo estavam presentes no julgamento. O Supremo também ressaltou que a ata da decisão foi publicada.

Segundo advogados ouvidos pela Folha Online, não há como mandar os não índios deixarem o local se eles ainda não foram, oficialmente, notificados da decisão.

O advogado constitucionalista Ives Gandra Martins disse que a notificação das partes envolvidas no processo é “essencial” para que a decisão seja cumprida. Gandra Martins explicou que, mesmo sem a publicação, os envolvidos podem ser notificados do teor da decisão por meio de mensagem eletrônica (e-mail) ou por telegrama.

“A publicação não é necessária. Agora, se não há nem um (publicação) nem outro (notificação) ela (a decisão) não pode ser cumprida. A publicação não é essencial mas a citação é essencial. Se não foi publicada nem os envolvidos citados, não há como ser cumprida”, disse Gandra Martins.

O advogado constitucionalista João Antonio Wiegerinck disse que a decisão do Supremo sobre a reserva Raposa Serra do Sol precisa ser instrumentalizada, ou seja, cumprir os instrumentos do processo, como a publicação e o mandado de citação.

“Não há como cumprir uma decisão que não foi oficialmente instrumentalizada. Por isso, a decisão (da reserva) pode não ser cumprida”, afirmou. (Fonte: Regiane Soares/ Folha Online)