“Esse vírus nem chega perto de ter a capacidade de matar do vírus de 1918”, declarou ao jornal americano “Los Angeles Times” o virologista Richard Webby, especialista em vírus influenza (causadores da gripe) do St. Jude Children’s Research Hospital (EUA).
Webby e outros pesquisadores mundo afora estão comparando as características genéticas da atual cepa de H1N1 com outros vírus influenza do passado e do presente. De acordo com Peter Palese, especialista ouvido pelo “Los Angeles Times” que trabalha no Mt. Sinai Medical Center, em Nova York, a atual cepa não possui um aminoácido (molécula que serve de “tijolo” para a construção de proteínas) que aparentemente ajuda na multiplicação viral nos pulmões e aumenta o risco ligado à infecção. Sem essa característica, é possível que a taxa de mortalidade ligada ao H1N1 atual seja relativamente baixa.
Para o biólogo Atila Iamarino, doutorando da USP que estuda a evolução de vírus como o HIV-1 e editor do blog Rainha Vermelha , os pesquisadores americanos podem estar certos. “Não parece ser um índice de mortalidade muito alto”, diz Iamarino, que não teve acesso aos dados genéticos da nova cepa.
No entanto, alguns outros fatores inspiram cuidados e preocupação. Iamarino cita um estudo do ano passado, coordenado por Fabrice Carrat, da Universidade Pierre e Marie Curie (França) e publicado na revista científica “American Journal of Epidemiology”, que examinou a dinâmica de incubação e transmissão dos vírus da gripe. “Um terço das pessoas infectadas não desenvolve sintomas da doença. E essas pessoas assintomáticas têm ao menos 50% de chance de transmitir o vírus”, lembra o biólogo.
Por isso, é importante levar em conta o grau de imunidade que a população em geral tem em relação ao H1N1 suíno. Como se trata de uma variedade viral que ainda não tinha circulado em humanos, é provável que poucas pessoas sejam resistentes ao vírus. Daí a importância de não baixar a guarda: mesmo que proporcionalmente o patógeno mate pouco, ele parece ser capaz de infectar muita gente – e o número absoluto de doentes e mortos ainda tende a ser grande. (Fonte: Reinaldo José Lopes/ G1)