O som da concha marinha, usada como se fosse um berrante, já ecoava nos paredões das serras em tempos remotos. Era um aviso que alguma mensagem estava chegando pelas trilhas montanhosas. Trilhas que o pesquisador andarilho Felipe Varela percorre desde maio do ano passado.
A malha viária que as antigas civilizações espalharam por toda a América do Sul tem 40 mil quilômetros. São os famosos caminhos incas, construídos com pedras para resistir às chuvas.
Nos caminhos atuais se chega de carro a quase todos os destinos. As estradas encurtaram as distâncias, mas aumentaram os riscos. É uma aventura viajar pelos Andes: terra batida, uma curva atrás da outra. O motorista precisa ser bom e dirigir com cuidado.
Qualquer vacilo ao volante pode custar a vida. É difícil encontrar uma estrada nessa região sem marcas de tragédias, identificadas por cruzes na beira das estradas. Nem os trechos asfaltados são menos perigosos.
Quando não são as pedras que rolam do alto e bloqueiam o tráfego, são os rios que transbordam e fecham a pista. Por terra, não há outra opção para se chegar a Chachapoya, nossa primeira escala. É tão imprevisível esse caminho que, de repente, a paisagem resolve desafiar a imaginação: no meio dos Andes, a paisagem tem bode e mandacaru, como na Caatinga.
Até a temperatura é parecida. Como no Brasil, no semi-árido nordestino, também nesse sertão peruano faz calor de 40ºC. Mas quem passa por esta região precisa se preparar para um choque térmico, porque logo na frente, a menos de 50 quilômetros, faz muito frio.
Esta parte da Amazônia concentra uma mistura de raridades, diz o biólogo Mirbel Riviera. São cinco ecossistemas diferentes no mesmo lugar. Cerca de 800 espécies de plantas que só aqui podem ser encontradas.
No topo está Chachapoya, a 3,3 mil metros de altitude. A temperatura média é de 10ºC, mas chega a 0ºC no inverno.
A capital do Amazonas peruano tem pouco mais de 100 mil habitantes e preserva em suas ruas a arquitetura dos colonizadores espanhóis. Perto da cidade, um belíssimo cartão-postal enche de orgulho o povo dessa região: a cachoeira Gocta, com 770 metros de queda d’água em dois estágios. No ranking das maiores do mundo ela, é a terceira. Mas na seleção das mais belas, sem dúvida, é a mais impressionante. (Fonte: G1)