Helena é pesquisadora assistente do Centro de Estudo e Pesquisa em Veterinária e Agroquímica, na Bélgica, laboratório de referência para diagnóstico de influenza aviária na União Europeia.
No simpósio ela apresentou o pôster Evidência de uma rápida mudança no epitopo dominante da proteína hemaglutinina do vírus da gripe aviária (H5N1) de origem asiática, resultado de seu trabalho de pós-doutorado desenvolvido na Europa.
O trabalho deu continuidade à tese de doutorado defendida no Programa de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com bolsa da FAPESP. O estudo descreve o mapeamento de mutações na proteína hemaglutinina dos vírus influenza H5N1, que tem alta patogenicidade e foi registrado inicialmente em Hong Kong, em 1997.
Os vírus influenza são compostos por RNA, um envelope viral derivado da célula hospedeira e dez proteínas virais, sendo classificados em tipos A, B ou C de acordo com as diferenças antigênicas de duas proteínas internas: a nucleoproteína (NP) e a proteína matriz (M1).
“Os vírus influenza A são encontrados em aves e mamíferos e sua subtipagem é baseada em duas proteínas encontradas no envelope viral, a hemaglutinina (HA) e a neuraminidase (NA). Atualmente, existem 16 subtipos diferentes de HA – do H1 ao H16 – e nove subtipos de NA – do N1 a N9 – e todos esses subtipos são encontrados em aves”, disse Helena à Agência FAPESP.
Os vírus influenza A em aves variam de acordo com a capacidade de infectar e causar doenças nesses hospedeiros. “Por isso, podem ser classificados como de baixa patogenicidade ou alta patogenicidade. A gripe aviária é provocada pelos vírus influenza aviários de alta patogenicidade de subtipos H5 ou H7”, explicou.
A hemaglutinina é a proteína responsável pela adesão do vírus e pelo seu primeiro contato com a célula, além de ser o principal alvo dos anticorpos de defesa, enquanto a neuraminidase faz com que o vírus penetre e se replique na célula.
Helena explica ainda que os vírus influenza H5N1 apresentam grande variação antigênica e são divididos em 10 clados (grupos), de 0 a 9, de acordo com a análise filogenética da hemaglutinina, sendo que apenas os vírus de dois clados têm sido capazes de infectar pessoas (1 e 2).
Sequências analisadas – A pesquisadora produziu anticorpos monoclonais H5 específicos e selecionou variantes virais capazes de “escapar” da neutralização desses anticorpos.
“São específicos para a proteína HA H5 dos vírus do clado 1. Esses anticorpos foram misturados com os vírus para selecionar populações virais capazes de ‘escapar’ da neutralização. Após sucessivas passagens virais na presença dos anticorpos, duas populações foram selecionadas e suas hemaglutininas foram sequenciadas”, disse.
Segundo Helena, as sequências obtidas foram analisadas para identificar os aminoácidos responsáveis pela resistência à neutralização aos anticorpos e comparadas com diversas sequências do clado 1 e 2 dos vírus H5N1. “A estrutura tridimensional da hemaglutinina por homologia também foi determinada e as mutações das variantes foram mapeadas”, contou.
De acordo com os resultados das análises, foi possível detectar um aminoácido na hemaglutinina que pode ser considerado como um dos epitopos dominantes dos vírus H5N1 – epitopo é a região da proteína viral reconhecida pelos anticorpos.
“Além disso, os vírus do clado 2 foram originados a partir dos vírus do clado 1 por meio da pressão de seleção nesse epitopo. Esse aminoácido também interage com o sítio de ligação do vírus com os receptores celulares e está em constante evolução”, destacou.
Segundo Helena, o mapeamento das mutações na hemaglutinina é importante para monitorar as variantes virais que possam gerar os vírus dominantes e possivelmente pandêmicos.
“Nosso estudo conseguiu detectar uma região importante para a origem de novas variantes virais dos vírus H5N1. Com isso, entendemos um pouco mais sobre a evolução desses vírus”, afirmou.
Tendo aparecido pela primeira vez em Hong Kong na década de 1990, os vírus influenza H5N1 de alta patogenicidade reemergiram em 2003 e atualmente são endêmicos em regiões do Leste e do Sudeste Asiático, provocando surtos em diversas regiões da Ásia central, Europa e África. “O H5N1 já provocou mais de 6,6 mil surtos em aves domésticas e a morte de 258 pessoas nessas regiões”, disse.
O trabalho premiado teve apoio do Escritório de Política Científica Federal da Bélgica, agência de fomento à pesquisa do país europeu. (Fonte: Thiago Romero/ Agência Fapesp)