No entanto, este tipo de comparação pode levar a falsas conclusões. A forte presença de nuvens, que encobriram 62% da Amazônia Legal no último mês, prejudicou a visualização do desmatamento pelos satélites e pode causar surpresa desagradável nos próximos meses.
Segundo explica o coordenador do projeto Amazônia do Inpe, Dalton Valeriano, quando acaba a época chuvosa, o sistema Deter (Detecção de Desmatamento em Tempo Real) sempre apresenta uma alta. “Esse pico não é desmatamento que aconteceu naquele mês, mas sim que foi detectado e aconteceu desde a última observação (sem cobertura excessiva de nuvens), que geralmente está no meio do semestre anterior”, explica o pesquisador.
Este ano, em que a Amazônia enfrentou chuvas muito intensas e cheia recorde, a cobertura de nuvens em maio foi superior ao normal. “Esse ano foi um horror”, sintetiza Valeriano. “Quando dá essa abertura e conseguimos realmente observar Mato Grosso e o sul do Pará, aí aparece um pico no desmatamento”, explica.
Como explica Valeriano, a cobertura de nuvens faz com que os dados do Deter sejam inadequados para comparação mês a mês. Ele é um sistema cuja principal função é orientar ações de fiscalização em áreas onde a devastação é flagrada.
Dalton Valeriano acrescenta ainda que o Inpe está fazendo os últimos ajustes para começar a trabalhar com dados de radar de satélites japoneses, que “enxergam através das nuvens”.
Quando estiver em funcionamento, o método vai permitir que o desflorestamento seja reprimido de forma mais efetiva durante o “inverno” amazônico (época de chuvas). “O desmatamento continua acontecendo no período chuvoso. Existem vários exemplos disso”, adverte Valeriano, contrariando a crença de que os desmatadores agem apenas na seca. (Fonte: Dennis Barbosa/ Globo Amazônia)