Risco de trombose cresce 26% a cada duas horas de voo, diz estudo

Viagens longas aumentam em até três vezes o risco de tromboembolismo venoso, condição que pode envolver trombose venosa profunda e embolia pulmonar. É o que aponta uma revisão científica de 14 estudos, que considerou 4.055 casos, publicada no “Annals of Internal Medicine” por pesquisadores da Escola de Saúde Pública de Harvard.

A cada duas horas de viagem por meio terrestre, como ônibus ou trem, os riscos aumentam 18%. Já durante um voo, as chances de o problema ocorrer crescem 26% a cada duas horas. Segundo o trabalho, estima-se que haja um caso de trombose durante uma viagem a cada 4.600 voos.

Os principais aeroportos brasileiros registram cerca de 2.000 voos regulares por dia, segundo a Infraero. “Esse risco absoluto é relevante para guiar decisões públicas e individuais sobre prevenção”, dizem os autores do levantamento.

A trombose venosa profunda, prevalente em 3% da população brasileira, ocorre quando um coágulo (também chamado de trombo) obstrui uma veia profunda e impede ou dificulta parcialmente a passagem de sangue na região.

A curto prazo, o trombo pode se deslocar e chegar ao pulmão, obstruindo uma artéria na região – quadro chamado de embolia pulmonar. Já a longo prazo, podem ocorrer complicações decorrentes da dificuldade do retorno venoso, causando inchaços no local e até mesmo úlceras, quando o problema não é tratado de forma correta.

“O custo social é muito grande”, diz José Luís Nascimento Silva, presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular.

O principal fator desencadeante de uma trombose venosa profunda é a imobilidade prolongada, favorecida em uma viagem longa. “A pessoa fica muito tempo na mesma posição, com as pernas para baixo, dificultando o retorno venoso (do sangue), o que é claramente demonstrado em estudos”, afirma Antônio Carlos Chagas, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia.

Os riscos são menores em uma viagem por terra porque os passageiros geralmente fazem paradas regulares para caminhar. Já em um avião, somam-se o fato de as pessoas permanecerem por mais tempo sentadas (grande parte em assentos apertados da classe econômica), a pressurização e a refrigeração da cabine.

“As pessoas se desidratam com mais facilidade e não bebem líquidos o suficiente. Grosso modo, o sangue fica mais viscoso [favorecendo a formação de coágulos]”, explica Silva. Além disso, o consumo de álcool é mais comum, e isso facilita a desidratação.

Os principais sintomas da trombose venosa profunda são dor e inchaço bastante significativos na perna e endurecimento da panturrilha.
Editoria de Arte/Folha Imagem

Grupos de risco

A população em geral deve cumprir as recomendações básicas para evitar riscos, principalmente se viaja em classe econômica, onde as poltronas são pequenas e dificultam ainda mais a movimentação.

Indica-se beber bastante líquido durante a viagem, evitar o consumo de álcool, usar meias elásticas de compressão para facilitar a circulação sanguínea, procurar caminhar a cada duas horas e, por esse motivo, não ingerir remédios para dormir. No caso de viagens terrestres longas, deve-se programar paradas regulares ou aproveitar as paradas periódicas dos ônibus para andar.

Já passageiros com histórico próprio ou familiar de trombose, arritmias cardíacas ou câncer, que fumem e usem hormônios ou que passaram por cirurgia recente, entre outros (veja infográfico nesta página), devem consultar um especialista antes de viajar.

“Pode-se avaliar particularmente o caso e tomar a decisão de usar alguma medicação preventiva, como os antiagregantes plaquetários, como a aspirina, ou mesmo uma profilaxia com um tipo de anticoagulante, indicação mais rara”, diz Silva.

O ar mais rarefeito e a pressão atmosférica menor da aeronave podem ainda causar desconforto em pacientes com doenças respiratórias crônicas.

Por isso, quem sofre de asma ou passa por uma crise aguda de sinusite, por exemplo, deve tratar os sintomas antes de embarcar para não sentir dor ou falta de ar, diz o pneumologista José Eduardo Cançado, presidente da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia. (Fonte: Julliane Silveira/ Folha Online)