De acordo com Antonio Ocimar Manzi, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), o projeto tem o objetivo de gerar estimativas mais precisas sobre o papel do ecossistema amazônico no contexto de mudanças climáticas globais.
Manzi apresentou o projeto Torre Alta de Observação da Amazônia (ATTO, na sigla em inglês) na quinta-feira (16/7), durante a 61ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Manaus. Será a segunda maior torre meteorológica no mundo, após uma na Sibéria.
O projeto, que integra o Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), é coordenado pelo Inpa e pelo Instituto Max Planck de Química, da Alemanha. Ao custo estimado de 8,4 milhões de euros, a torre será importante para aprimorar modelos climáticos, diminuindo incertezas. Os custos serão divididos igualmente pelos governos dos dois países.
O local da construção do novo sítio experimental já foi definido: a Reserva Biológica do Uatumã, na região da hidrelétrica de Balbina. Segundo Manzi, a torre possibilitará pela primeira vez a medição contínua de condições meteorológicas, incluindo temperatura, umidade e vento, além de fluxos de gás carbônico, vapor de água e energia entre a atmosfera e a superfície.
“A torre também dará a possibilidade de fazer medidas finas de vários constituintes atmosféricos que muitas vezes são produzidos pela vegetação. Poderemos ver como eles são transportados e como reagem na atmosfera, especialmente no balanço de carbono. O grande estoque de carbono da Amazônia faz dela uma região importante no contexto do clima e das mudanças climáticas globais”, disse Manzi à Agência FAPESP.
No sítio experimental, além da torre principal de 300 metros haverá outras quatro torres meteorológicas de cerca de 70 metros cada uma, voltadas para a medição de fluxos menores.
“Teremos ali também perfiladores atmosféricos remotos, radares meteorológicos e outros equipamentos, além de laboratórios e prédios auxiliares. O sítio experimental será uma grande estação de referência mundial para florestas tropicais úmidas de todo o planeta”, disse.
Segundo Manzi, serão monitoradas as concentrações de dióxido de carbono, metano e outros gases atmosféricos. No sítio serão feitas também análises das composições isotópicas dos gases, que deverão contribuir para o entendimento das suas fontes e sumidouros.
“Hoje, esse tipo de dados é gerado principalmente com balões, que medem poucas variáveis, ou com aviões, que apesar de obterem dados com boa variação espacial, são muito limitados para estudar as variações ao longo do tempo”, explicou.
Toda essa estrutura permitirá modelar de maneira mais realista o funcionamento dos ecossistemas do ponto de vista das trocas de energia e dos ciclos de nutrientes. “Além disso, poderemos conhecer melhor todos os processos de transporte na baixa atmosfera, na camada limite e também os de transformação de nuvens em chuva”, afirmou.
Ligação entre métodos
Manzi indica que, de acordo com o planejamento, o sítio experimental já estará operando no fim de 2010. Os próximos passos para a concretização da estação de monitoramento serão o detalhamento do projeto de pesquisa e a inspeção do solo no local selecionado. Em seguida, a construção poderá começar.
A torre ficará localizada em uma área de terra firme na floresta, tipo de ambiente mais recorrente na variada paisagem amazônica. A escolha do local teve como base uma série de estudos. O acesso é feito em três etapas.
“Partindo de Manaus, fazemos uma parte do percurso com carros com tração nas quatro rodas. Depois de um trecho de barco é preciso percorrer uma trilha de cerca de 10 quilômetros na mata. Teremos um pequeno trator para transportar os equipamentos mais pesados, além de quadriciclos. Estamos estudando levar parte dos equipamentos mais pesados com helicópteros”, disse Manzi.
O novo sítio experimental completará a rede de observação utilizada pelo LBA. Segundo o pesquisador do Inpa, apesar de haver uma boa quantidade de dados obtidos, a falta de um equipamento capaz de fazer medições de forma contínua, com um raio de observação de centenas de quilômetros, impede que se faça a ligação entre as informações sobre trocas gasosas obtidas por meio de balões e o monitoramento via satélite, por exemplo.
“A torre permitirá fazer a ligação entre os diferentes métodos e escalas de medições das trocas gasosas – feitos por torres, satélites, aviões e balões. Por isso, os dados obtidos ajudarão na avaliação dos modelos”, afirmou.
Participam do projeto, além do Inpa e do Instituto Max Planck, o Ministério da Ciência e Tecnologia, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, a Universidade de São Paulo, a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Amazonas, a Universidade do Estado do Amazonas e a Cooperação Técnica da Alemanha. (Fonte: Fábio de Castro/ Agência Fapesp)