“Com a restrição, as pessoas começaram a perceber que conseguiam passar mais tempo sem fumar, e isso as encorajou a procurar ajuda para deixar o vício definitivamente. Percebemos um interesse cada vez maior das secretarias estaduais e municipais de saúde em ampliar o atendimento a essa população”, diz ao G1 Tânia Cavalcante, coordenadora do Programa Nacional de Controle do Tabagismo, do Instituto Nacional de Câncer (Inca), do Ministério da Saúde.
De acordo com Tânia, o salto no número de atendimentos, apesar de ainda não ter dados oficiais, pode ser percebido pelo interesse na ampliação da rede de unidades preparadas para ajudar quem quer deixar o vício. “Temos hoje cerca de 800 unidades de atendimento gratuito, distribuídas em 500 municípios do país. Em 2010, nosso planejamento indica que teremos pelo menos 3,3 mil postos de atendimento, distribuídos em 1,2 mil cidades.”
No Brasil, cerca de 16% da população acima dos 15 anos fuma. O cigarro, de acordo com o Inca, é responsável por cerca de 200 mil mortes por ano. O hábito também leva ao registro de mais de 27 mil casos de câncer de pulmão por ano, e mais de 14 mil casos de câncer na cavidade oral. Neste sábado (29), o governo promoveu o Dia Nacional de Combate ao Fumo, como forma de dar mais um incentivo aos fumantes.
“Existe um programa nacional de combate ao tabagismo, que trabalha em parceria com as secretarias estaduais e municipais. Temos três grandes frentes: evitar que os jovens, principais alvos da indústria do cigarro, comecem a fumar; incentivar dependentes a deixar o vício; e proteger a população do tabagismo passivo. Para isso atuamos no âmbito educativo, com campanhas, e na implantação do tratamento no Sistema Único de Saúde”, afirma Tânia.
Para o Inca, o medicamento é apenas um coadjuvante no tratamento contra o tabagismo. “O principal aspecto é a abordagem cognitivo-comportamental em grupos, que pretende ajudar o fumante a entender a dependência e os riscos que corre. Só assim ele poderá adotar mudanças em sua rotina, para reaprender a viver sem o cigarro”, afirma a coordenadora.
Segundo Tânia, não existe uma fórmula mágica. “Só um conjunto de ações pode ajudar alguém a deixar o vício. É importante socializar o conhecimento, incentivar leis que proíbam a propaganda ou que proíbam fumar em recinto coletivo, colocar advertências nas embalagens e até uma política de preços e impostos mais adequada, porque no Brasil o cigarro ainda é muito barato e isso facilita a iniciação.”
No Instituto do Coração (Incor), do Hospital das Clínicas, em São Paulo, o tratamento que é oferecido desde 1996 é um pouco diferente do proposto pelo Instituto – que propõe encontros em grupo e acompanhamento psicológico, entre outras coisa -, mas, segundo a diretora Jaqueline Scholz Issa, funciona.
“Temos um índice ótimo de sucesso. Cerca de 45% das pessoas que passam pelo tratamento deixam de fumar definitivamente”, diz ao G1a diretora do Programa de Tratamento de Tabagismo do Instituto do Coração e autora dos livros “Deixar de Fumar” e “Sem Filtro”.
Podem participar do programa do Incor pacientes do Instituto, por meio do SUS, ou quem tiver um convênio que tenha vínculos com o hospital. “O tratamento é focado na ação médica, com medicamentos para abstinência, e se dá com uma relação bastante próxima entre médico e paciente”. O programa tem duração de um ano e é individual, sem consultas com psicólogos.
Depois da lei antifumo, a demanda pelo tratamento do Incor por meio dos convênios aumentou pelo menos 20%. “Sem dúvida foi um incentivo e, mais do que isso, a lei rejuvenesceu a procura por tratamento. Antes nos procuravam pessoas mais velhas, já com problemas de saúde. Hoje, como os mais afetados pela lei são os mais jovens, criou-se uma nova demanda.”
O Inca recomenda que o cidadão entre em contato com a Secretaria de Saúde do seu município para consultar a lista de unidades de saúde habilitadas.
Aberto ao público – O Programa Antitabágico do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP) existe desde 2004 e é aberto a qualquer pessoa. Os medicamentos, no entanto, quando necessários, só são fornecidos gratuitamente a funcionários da universidade. A partir de setembro, serão abertos grupos específicos para alunos da USP e para adolescentes e gestantes fumantes.
“Esses são públicos especiais com que não temos experiência, então como o Hospital Universitário tem a função de educar, vamos abrir espaço para conhecer melhor os adolescentes e gestantes que fumam e querem parar”, diz ao G1 o professor João Paulo Lotufo, médico responsável pelo programa. São atendidas cerca de 30 pessoas por mês.
O tratamento para o combate ao tabagismo dura cinco semanas, com encontros uma vez por semana. “A primeira etapa do tratamento é o conhecimento do que acontece, do porquê da dependência química, comportamental e emocional. Depois disso há o atendimento com médicos, enfermeiros e psicólogos e a pessoa vai reduzindo o fumo por conta própria. Não existe um método para parar de fumar. Algumas pessoas precisam de remédios para combater a síndrome de abstinência”, afirma Lotufo.
Com o término do período, é recomendado permanecer com o tratamento. “Difícil não é só parar de fumar, mas ficar sem fumar depois.”
Apesar de ser aberto a todos, o público majoritário do programa são homens e mulheres entre 30 e 50 anos. Vale lembrar que as inscrições devem ser feitas pessoalmente, para que uma primeira entrevista com o interessado já seja realizada. (Fonte: G1)