A pesquisa foi realizada em 2007 e agora seus dados estão sendo tabulados e enviados para publicação em revistas científicas. Além de aplicar questionários para colher as queixas dos entrevistados, foram realizados exames de polissonografia, a principal forma de diagnosticar distúrbios do sono.
Duas pesquisas já haviam sido feitas pela mesma instituição, em 1987 e 1995, com questionários, mas sem a realização de exames. A comparação entre os três levantamentos mostra que houve um aumento de todas as queixas.
Dificuldade para dormir e para manter o sono, ronco, bruxismo, sonambulismo e pesadelos foram alguns dos problemas relatados. Apesar de não ser possível saber se o aumento na frequência de queixas corresponde a um crescimento na ocorrência dos distúrbios propriamente ditos -já que em 1987 e 1995 não foram feitos exames diagnósticos -, a tendência é que haja, sim, um crescimento desses problemas.
“A queixa do paciente é um parâmetro relevante para determinar o diagnóstico dos distúrbios, apesar de não ser o único”, afirma o biólogo Rogério Santos Silva, autor da pesquisa.
Segundo ele, o alto índice de estresse pode ajudar a explicar o aumento das queixas. “Vários desses problemas, como insônia, pesadelos e sonambulismo, têm relação com o estresse. A pesquisa foi feita numa grande metrópole, com altos índices de violência, e as pessoas estão cada vez mais estressadas.”
O excesso de peso também contribui. No levantamento, 60% da população apresentou sobrepeso ou obesidade. Ronco e apneia são mais frequentes em pessoas que estão acima do peso, como mostra a própria pesquisa: os entrevistados com sobrepeso tiveram 2,6 vezes mais chance de ter apneia do que aqueles que estavam com peso adequado. Nos obesos, o risco aumentou 10,5 vezes.
Apneia – Dos resultados obtidos, o que mais surpreendeu foi a prevalência da síndrome da apneia obstrutiva do sono: um terço da população (32,9%) tem o problema, caracterizado por pausas na respiração à noite.
Quando se considera só a ocorrência de pausas respiratórias (sem outros critérios necessários para caracterizar a síndrome, como fadiga de dia), o índice sobe para 38%.
“O problema é preocupante porque a pessoa fica com o sono descontinuado e, mesmo que durma um bom número de horas, acorda cansada. Isso afeta a capacidade de se concentrar, de memorização, de raciocínio. Cai a performance no trabalho e a qualidade de vida em geral”, enumera o pneumologista e especialista em sono Maurício Bagnato, do laboratório do sono do Hospital Sírio-Libanês.
A apneia também aumenta o risco de ter doenças cardiovasculares. O trabalho feito no Instituto do Sono comprovou isso: a prevalência de hipertensão, por exemplo, foi de 55% nos indivíduos com apneia leve e de 61% naquelas com apneia moderada ou acentuada. Em pessoas sem apneia foi de 26%.
Outra descoberta da pesquisa foi que pacientes com apneia moderada ou acentuada tiveram duas vezes mais chance de ter intolerância à glicose -que pode levar ao diabetes- ou o próprio diabetes tipo 2.
Apesar de muitas vezes o excesso de peso ser o responsável por isso, nesse caso a relação foi observada independentemente da obesidade, diz a pneumologista e especialista em sono Sônia Togeiro, também autora do estudo. “A relação com a hipertensão está bem documentada, mas poucos estudos mostram a ligação com o diabetes.” (Fonte: Flávia Montovani/ Folha Online)