O esquema de desvio foi descoberto há cerca de um ano pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), do Ministério da Justiça. Inicialmente o órgão suspeitava de cerca de R$ 2,6 milhões desviados para uma empresa fantasma, que repassou pagamentos a quatro funcionários da Fundação.
O Coaf comunicou a suspeita ao Ministério Público de São Paulo, que aprofundou as investigações e descobriu como era feito o desvio.
Os recursos foram desviados de uma conta bancária inativa da Fundação, que não aparecia na contabilidade do órgão. O Ministério da Saúde pagava, nesta conta, por lotes de vacinas e soros encomendados à Fundação.
Segundo o promotor Airton Grazzioli, da Curadoria de Fundações, é de praxe que o Ministério da Saúde pague pelas vacinas encomendadas em contas novas. Neste caso, a conta deveria ter sido fechada após o pagamento, o que não ocorreu.
O funcionário Adalberto da Silva Bezerra, gerente financeiro da entidade, tinha acesso a esta conta e fez repasses a empresas que não tinham relação com a atividade da Fundação. Somente uma delas, uma pequena empresa de manutenção de eletrodomésticos, recebeu R$ 24 milhões da conta. O promotor afirma que o esquema não trouxe prejuízos à produção de vacinas e à saúde financeira da Fundação.
As investigações mostraram que as empresas repassaram valores a pelo menos sete funcionários da entidade. Somente a Bezerra, demitido por justa causa no ano passado, os repasses totalizaram R$ 4,6 milhões. Os outros seis funcionários também foram demitidos, segundo a Promotoria.
O Deic (Departamento de Investigações sobre Crime Organizado) da Polícia Civil ainda investiga outros possíveis envolvidos.
Afastamento – Segundo Grazzioli, não há indícios de que os responsáveis pela Fundação tenham se beneficiado do esquema. Ele afirma, porém, que a administração da entidade, cujo orçamento deste ano é de R$ 300 milhões, era feita de forma “doméstica” e “temerária”. Havia, por exemplo, descontrole em relação à quantidade de contas bancárias e liberação de senhas a funcionários.
Por recomendação do Ministério Público, o presidente Isaías Raw foi afastado do cargo e o conselho curador da entidade abriu sindicância para apurar se sua gestão teve responsabilidade ao possibilitar o esquema.
A superintendente técnica da Fundação, Hisako Higashi, também foi afastada do cargo. Ela acumulava o cargo de diretora do Instituto Butantan e foi exonerada na terça-feira, de acordo com a Promotoria. Erney Plesman de Camargo assumiu a presidência interinamente e Hernan Guralnik a superintendência.
Raw disse à coluna de Mônica Bergamo que o afastamento “é a forma mais fácil de eles fazerem a auditoria sem interferências”.
A Folha Online não teve acesso ao advogado de Adalberto da Silva Bezerra. Assim que ele se manifestar, se é que o fará, sua versão sobre os fatos será incluída neste texto. (Fonte: André Monteiro/ Folha Online)