Físicos usam “visão de Super-Homem” para atravessar material opaco

Não é exatamente uma visão de raios-X, mas foi descoberta uma maneira de transmitir imagens simples através de objetos opacos, utilizando luz comum. Físicos usaram o método para projetar uma imagem por vidro coberto de tinta grossa.

Algumas coisas que consideramos opacas – “impossível de ver através delas”, de acordo com definição do Novo Dicionário Oxford – são levemente translúcidas, o que significa que alguma luz de fato consegue passar.

Entretanto, ela fica tão espalhada enquanto colide com o interior atômico dos materiais, que físicos pensavam que estava além do alcance prático conseguir ver o do outro lado do objeto.

Um experimento de 2007 que conseguiu direcionar luz através de cascas de ovo e dentes humanos demonstrou que havia sim possibilidades em cumprir este objetivo, contudo.

Agora, as primeiras imagens simples foram transmitidas através de um objeto opaco e reconstruídas do outro lado, pelo físico Sylvain Gigan e colegas, na École Supérieure de Physique et de Chimie Industrielles, em Paris, França.

Reconstrução
– Por engenharia reversa do processo de espalhamento, a equipe foi capaz de reconstruir uma imagem da luz que tinha passado através da camada opaca de tinta.

O espalhamento é complexo, mas também é previsível: a mesma onda de luz sempre vai se espalhar da mesma maneira.

A maneira como um objeto particular espalha luz é conhecida como sua matriz de transmissão. “Se a (camada de tinta) é um labirinto para a luz, então você poderia considerar a matriz de transmissão como o seu mapa”, diz Gigan.

Sua equipe calculou a matriz de transmissão para o deslizamento através de seu vidro pintado atingindo-o com um raio laser fraco mais de mil vezes, mudando a forma do raio a cada vez. Para isso, foi utilizado um modulador de luz espacial – o mesmo aparelho usado para controlar a luz emergindo de um projetor de vídeo.

Uma câmera digital no outro lado do vidro detectou os diferentes padrões de espalhamento produzidos a cada vez. Comparando o que a câmera via com o que havia sido feito ao raio laser, a equipe mediu a matriz de transmissão completa da imagem.

Imagem invisível – Se uma simples imagem era então projetada, uma pessoa simplesmente olhando ao vidro pintado pelo outro lado poderia ver somente um brilho uniforme.

Mas a equipe utilizou conhecimentos sobre a matriz de transmissão para decodificar os vestígios fracos e desarrumados que alcançaram a câmera digital e reconstruíram a imagem.

“Uma vez que a matriz é conhecida, reconstruir a imagem é muito rápido”, diz Gigan. “Nós podemos alcançar quase uma qualidade de vídeo no foco e produção da imagem.”

No entanto, será necessário algum tempo antes que a técnica seja utilizada para transmitir e reconstruir qualquer imagem realmente interessante.

Quadrados – As imagens de teste foram padrões muito simples: uma rede quadriculada retangular de 256 pixels com certos punhados de seus quadrados mais brilhantes.

“A qualidade das imagens degrada rapidamente quando se aumenta o número de pixels, porque a razão sinal-ruído cai”, diz Gigan, embora ele diga que haja “espaço para melhoras” com estudos futuros.

Allard Mosk, na Universidade de Twente, em Enschede, Holanda, um dos que direcionaram a luz através de cascas de ovo e dentes em 2007, afirmou estar impressionado.

“Nós podemos ver que, tecnicamente, este trabalho está no começo de uma longa e excitante estrada”, afirma ele. “Apesar de, no momento, a técnica estar restrita a simples imagens de 256 pixels, ele acredita que outros grupos pelo mundo agora vão se inspirar a enviar imagens maiores e mais complexas através de objetos opacos. (Fonte: Folha Online)