Segundo o astrônomo Germano Afonso, um dos cientistas envolvidos no projeto de construção e instalação do planetário, os indígenas acreditam em uma associação permanente e constante entre tudo o que existe no céu e na terra.
“Os índios se consideram parte do meio ambiente e tudo é entendido e considerado como um reflexo do céu na Terra. Isso vale para tudo. Se existe, por exemplo, um determinado animal na Terra é porque existe um animal perfeito e semelhante a esse no céu”, explicou.
A indígena Luciana Ferreira, consultora do grupo de etnoastronomia do Musa, afirmou que o céu e as estrelas podem ser compreendidos de formas diferentes por cada etnia, mas que tudo o que é visto é considerado na vida desses povos.
“Obviamente estamos falando de um mesmo céu, mas que é visto e entendido de formas diferentes. Ao observar o céu, os índios sabem se vai chover muito ou pouco e qual é a melhor época para caçar ou plantar”, exemplificou.
De acordo com a pesquisadora Thaísa Nadal, a observação e interpretação do céu é uma prática que existe desde a antiguidade.
“Nas constelações zodiacais, por exemplo, se observam figuras como o escorpião. Já na Amazônia, as figuras que podem ser formadas no céu pelas estrelas, a partir da visão indígena, têm nomes e significados diferentes dos da astronomia ocidental.”
O planetário indígena do Musa foi instalado no Jardim Botânico Adolpho Ducke, zona leste de Manaus. Com 8 metros de diâmetro e capacidade para 45 pessoas deitadas, o local também tem a particularidade de ter o formato cilíndrico – adaptado especialmente para localidades situadas próximas à linha do Equador.
“Em distintos lugares no mundo, o céu é projetado numa esfera, mas na Amazônia, foi possível fazer essa projeção num cilindro porque nessa região, próxima à linha do Equador, o movimento das estrelas é percebido como se fosse feito em um cilindro”, destacou Afonso.
Além dos cientistas, o Musa também contará com a ajuda inicial de cinco monitores indígenas que irão receber os visitantes no novo planetário e dar explicações sobre a astronomia indígena. Todos são estudantes universitários do curso de Pedagogia Intercultural Indígena, oferecido no Amazonas, e pertencem às etnias Baré, Tukano, Tikuna e Dessana. (Fonte: Agência Brasil)