Formas de vida complexas teriam surgido há 2,1 bilhões de anos

As formas de vida complexas, organismos pluricelulares, teriam surgido há 2,1 bilhões de anos, o que significa uma antecipação de 1,5 bilhão de anos no que havia sido documentado cientificamente até o momento, segundo estudo publicado nesta quarta-feira (30).

De acordo com especialistas, o estudo traz mais questões do que respostas. Ainda assim, a descoberta está na capa da revista científica britânica “Nature”.

As primeiras formas de vida que surgiram na Terra, há cerca de 3,5 bilhões de anos, eram unicelulares, seres vivos constituídos de apenas uma célula, como as bactérias.

O cursor que aponta a origem da vida complexa multicelular “se deslocou em 1,5 bilhão de anos”, declarou Abderrazak El Albani, da Universidade de Poitiers, França, principal autor do estudo.

Com sua equipe internacional, ele descobriu no Gabão mais de 250 fósseis de 7 milímetros a 12 centímetros de comprimento.

Fósseis já haviam demonstrado uma explosão de formas de vida pluricelulares há 600 milhões de anos, mas sua aparição antes desse período era controversa, segundo o pesquisador.

Até a recente descoberta, um fóssil, Grypania spiralis, com cerca de 1,6 bilhão de anos marcava o surgimento de vida mais complexa.

Os primeiros unicelulares e bactérias atuais são constituídos de uma célula sem núcleo, ou seja, sem membrana protetora do material genético – os “procariontes”.

As formas de vida complexas, dos insetos até os mamíferos, sem esquecer dos unicelulares como os paramécios, têm células chamadas “eucariontes”, com cromossomos acomodados em um núcleo.

Com um tamanho muito grande para representar resíduos de simples unicelulares primitivos, os contornos dos fósseis evocam, segundo Albani, as formas de organismos vivos em suspensão na água ou perto do fundo do oceano.

“Interpretar realmente antigos fósseis é uma tarefa particularmente difícil”, explicam Philip Donoghue, da Universidade de Bristol, Grã-Bretanha, e Jonathan Antcliffe em um comentário publicado na “Nature”, prometendo “futuras discussões entre os paleontólogos”.

“Esses fósseis de poucos centímetros, que os autores interpretam como representantes de organismos multicelulares”, teriam surgido ainda em meio a “uma atmosfera de mistura tóxica com um teor de oxigênio correspondente a alguns centésimos dos níveis atuais”, contra-argumentaram os dois especialistas.

Sem colocar em dúvida a idade desses espécimes, eles notaram que a definição de uma vida pluricelular “pode incluir colônias de bactérias a mamíferos”.

Segundo Albani, os espécimes descobertos não podem ter vindo de simples bactérias. O pesquisador pede ainda a preservação do sítio do Gabão, tentando transformá-lo em parte do “patrimônio mundial da humanidade”. (Fonte: G1)