Brasileiros explicam estágio atual dos experimentos no Colisor de Hádrons

Os cientistas brasileiros que trabalham no super-acelerador de partículas LHC (Grande Colisor de Hádrons) estão animados com os resultados já obtidos, mas ressalvam que é preciso ter paciência e persistência para chegar ao anúncio das primeiras grandes descobertas científicas.

O maior experimento científico do mundo consiste em colidir partículas no nível mais alto de energia já tentado, recriando as condições presentes no momento do Big Bang, que teria marcado o nascimento do universo, 13,7 bilhões de anos atrás.

O LHC, situado em um túnel subterrâneo circular de 27 quilômetros de extensão sob a fronteiro franco-suíça, começou a circular partículas em novembro de 2009 (depois de ser fechado em setembro de 2008 por causa de superaquecimento). Em 30 de março deste ano, o LHC promoveu as primeiras supercolisões de partículas ‘de laboratório’ da história.

Pesquisadores do CMS, um dos detectores de partículas instalados ao longo do túnel, apresentaram no início deste mês, durante o 30º Congresso de Física de Colisões, na Alemanha, resultados que indicam a detecção do “quark top” pelo acelerador.

A partícula só havia sido “vista” no Estados Unidos, por outro acelerador, o Fermilab. “Encontrar o quark top é simbólico. Este resultado é importante porque indica que os detectores estão funcionando corretamente, caso contrário não o encontraríamos”, explica o físico André David, pesquisador da Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (Cern, na sigla em francês, a instituição responsável pelo LHC) e do Laboratório de Lisboa.

“O que procuramos aqui nunca foi visto antes, é como fazer tiro ao alvo sem o alvo, e resultados como esse indicam que estamos no caminho certo”, diz o físico da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Vitor Oguri. “Existe uma ansiedade por resultados, mas a quantidade de dados é muito grande e primeiro precisamos analisar todas as informações. E ainda refazer e melhorar a física e as medidas que foram feitas antes. A gente desconhece muito mais do que conhece. Mesmo as partículas que já foram detectadas por outros aceleradores, como o Fermilab, ainda não são totalmente conhecidas.”

Os pesquisadores apontam outra característica do empreendimento: “Os trabalhos aqui são feitos em colaboração, às vezes um grupo se concentra em uma determinada parte, mas a análise física é bem distribuída. Assim, os resultados não podem ser individualizados, os resultados individuais são utilizados por todos”, explica Wanda Prado, também da Uerj.

Além da expectativa das próximas análises, os pesquisadores do LHC esperam pelas próximas colisões, que serão com feixes diferentes daquelas ocorridas em março, com dois feixes de prótons. Em novembro, o LHC vai colidir íons de chumbo pela primeira vez. (Fonte: Ana Luiza Sério/ G1)