Pesquisadores da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) descobriram que o vírus vaccinia – causador de doença não letal, mas que traz grandes inconvenientes a humanos – está circulando pelo país e contaminou macacos na Amazônia.
“Foi surpreendente para nós. Apesar de nós já termos indicações anteriores, não imaginávamos que seria tão expressivo”, afirma Erna Kroon, coordenadora do Laboratório de Vírus da UFMG.
O vaccinia foi encontrado em animais silvestres do Tocantins que dificilmente tiveram contato com humanos, gado ou outras espécies com contaminação registrada.
Segundo os cientistas, isso pode significar que uma importante forma de disseminação tenha passado despercebida na última década.
Em estudo publicado na revista científica “Emerging Infectious Diseases”, eles dizem ter pistas de que a contaminação foi causada por roedores não silvestres, que entraram em contato com pessoas ou animais infectados.
Os pesquisadores acreditam que essa forma de transmissão silenciosa também aconteça com outros vírus – alguns mais perigosos do que o próprio vaccinia.
A UFMG está começando uma pesquisa com outra família de vírus e já encontrou casos de contaminação simultânea com o vaccinia. O que, inicialmente, reforça os temores da equipe.
O pesquisadores descobriram a contaminação ao examinar animais resgatados na construção de uma hidrelétrica em Lajedo e Ipueiras, em Tocantins.
Dos 344 mamíferos resgatados, 84 indicavam presença de anticorpos para o vírus. O maior índice foi nos primatas: 25,3% dos macacos-pregos e 48,1% dos bugios.
Por meio de sequenciamento parcial e análise do genoma de seis amostras positivas das duas espécies, os cientistas confirmaram que se trata do mesmo vírus que, no resto do país, causa doenças no rebanho bovino.
O vaccinia pertence ao gênero Orthopoxvirus – o mesmo da varíola humana – e sua origem nunca foi complemente esclarecida.
Desconhecido – Sua proximidade com o causador da varíola fez com que ele fosse usado nas vacinas contra a moléstia, declarada oficialmente extinta pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em 1980.
Os pesquisadores não sabem se o vaccinia encontrado em Tocantins tem relação com a imunização ou se é alguma outra forma recombinante na natureza.
A doença causada por ele em humanos, embora não letal, tem custos sociais e econômicos altos.
O desconhecimento de médicos e laboratórios é uma das principais ameaças.
“Como os profissionais de saúde não têm informações sobre o vírus, não sabem prescrever o tratamento adequado”, alerta Kroon. Os laboratórios também não costumam incluir a testagem para o vaccinia, que é altamente contagioso, em seus exames. (Fonte: Giuliana Miranda/ Folha.com)