Líder em genômica diz que fomos ingênuos sobre potencial de sequenciamento do DNA

Um dos grandes líderes da pesquisa com genoma humano no mundo, Eric Green, diretor do Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano (EUA), fez, em visita ao Brasil, um mea-culpa pelas promessas não cumpridas do genoma humano.

Dez anos após o sequenciamento ser apresentado, ele reconhece que analisar os dados levantados e relacionar determinados genes a determinadas doenças se mostrou algo difícil de fazer.

“Muitos de nós pensamos que rapidamente entenderíamos como o genoma se relacionava com as doenças, e que muito rapidamente isso mudaria toda a medicina”, disse ele à Folha. “Agora percebemos que há muito mais passos no caminho e que eles vão exigir muito trabalho. O que nós fizemos de maneira ingênua foi talvez prometer que avanços médicos viriam rápido.”

É necessário, diz ele, rever a fala do seu colega Francis Collins, na apresentação da sequência do genoma humano, em 2000. Na época, Collins dizia que, em dez anos, testes genéticos diagnosticariam câncer, Alzheimer e diabetes. Não aconteceu.

“Nós realmente acreditávamos nisso. Mas não ter acontecido não significa que exista algo errado com o nosso campo”, diz Green, que esteve no Brasil para o Simpósio Avanços em Pesquisas Médicas, da USP.

“Se você olhar para os avanços médicos na história, dificilmente você vai encontrar algo que deixou de ser uma descoberta científica básica e realmente mudou a prática da medicina em uma década”, comenta o cientista.

“São sempre 20, 30, 40 anos antes de você conseguir isso. Se tivéssemos sido lembrados disso há dez anos, provavelmente teríamos visto tudo de maneira diferente.”

Além das interações entre genoma e doenças terem se mostrado complexas, Green lembra que há uma limitação de recursos humanos. “Não há gente jovem suficiente treinada tanto em computação quanto em biologia, e precisamos de gente boa nas duas áreas.”

Somente gente com essa formação cruzada pode desenvolver maneiras de analisar a imensidade de dados sobre o genoma que já existe. Essa quantidade de informação tremenda surgiu porque se tornou barato sequenciar trechos do genoma humano – os cientistas ainda estão longe de conseguir transformar tudo isso em algo útil aos hospitais, porém.

O preço baixo fez com que empresas vendessem análises individuais do genoma de quem quiser pagar umas poucas centenas de dólares. Green, porém, acha que pode ser jogar dinheiro fora.

“Algumas pessoas fazem porque são muito paranoicas com a saúde, outras porque têm casos de doença na família, outras porque as análises têm um valor de entretenimento. Pode ser divertido, mas também pode causar confusão. Porque o que você faz com a informação, digamos, de que você tem 3% a mais de chance do que a média de ter hipertensão?”, questiona. (Fonte: Ricardo Mioto/ Folha.com)