Com a seca na Amazônia, tartarugas e peixes-boi viram alvo fácil de caçadores

Com a seca dos rios do Amazonas, a matança de animais como peixes-boi, botos e tartarugas se intensificou. Só nas duas últimas semanas, aos menos 13 peixes-boi foram mortos na região de Manacapuru (80 km do centro de Manaus).

O dado foi confirmado à Folha pelo comandante do Batalhão Ambiental, major Miguel Mouzinho Marinho.
A situação é mais grave com o peixe-boi, pois ele é considerado pelo Ipaam (Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas) o mamífero aquático mais ameaçado de extinção do Brasil.

Nesta época do ano, o animal busca refúgio nos lagos, que são braços de rios. Com o baixo nível das águas, os peixes-boi, que atingem 3 m de comprimento e pesam até 450 kg, viram presas fáceis.

“Os animais ficaram confinados [nos lagos] e vulneráveis aos ataques dos caçadores”, afirmou Marinho.
A região central da bacia amazônica enfrenta uma estiagem atípica desde agosto. No Amazonas, os rios Negro e Solimões bateram recordes históricos de vazantes (baixa das águas). Ambos os rios já começam a encher, mas o nível das águas é insuficiente para navegação, o que provoca isolamento.

A população sofre ainda com a falta de água potável e de alimentos. Das 62 cidades, 39 decretaram situação de emergência – são 66 mil famílias atingidas pela seca.

Matança de espécies – Além de Manacapuru, há registros de matança de espécies nas cidades de Codajás, Silves, Tefé e Autazes. Nas feiras de Manacapuru, o Batalhão Ambiental apreendeu 1,3 tonelada de pescado.

Os peixes – pirarucus, tambaquis e tucunarés – tinham tamanho proibido do permitido por lei para pesca.
No município, os ataques aos peixes-boi se concentram na comunidade de Jacarezinho, que fica a seis horas de viagem de barco da sede, pelo rio Solimões.

Ninguém foi preso. Marinho diz que não consegue chegar aos locais da matança por causa da falta de navegabilidade dos rios.

Nesta semana, o Ipaam apreendeu, na cidade de Silves (203 km de Manaus), 10 kg de carne de peixe-boi e 133 ovos de tartaruga.

Na cidade, os agentes ambientais voluntários da Aspac (Associação de Silves para a Preservação Ambiental e Cultural) resgataram um peixe-boi dos caçadores, mas o animal morreu. Ele foi atacado com um arpão.

Para o pesquisador do Inpa Anselmo d”Affonseca, a matança atual de animais, como o peixe-boi, é tão crítica como a que ocorreu durante a seca de 2005. “Acreditamos que com mais duas vazantes fortes, esses animais vão ficar criticamente ameaçados de extinção.” (Fonte: Kátia Brasil/ Folha.com)