A epidemia de cólera que matou pelo menos 1.110 pessoas e deixou milhares de infectados no Haiti é parte de uma pandemia global da doença que já dura 49 anos, e possivelmente chegou ao país por meio de uma única pessoa infectada, disseram cientistas nesta quinta-feira (18).
O clima continua tenso no país por conta da expansão da epidemia, em meio ao caos de infraestrutura causado pelo terremoto de 12 de janeiro. Jovens moradores confrontaram soldados da ONU na capital, Porto Príncipe, nesta quinta.
A epidemia no país pode facilmente piorar, a despeito dos esforços para controlá-la, disseram o Centro de Controle de Doenças dos EUA e a Organização Panamericana de Saúde.
Muitos haitianos culpam tropas da ONU por terem trazido a doença para a ilha, que ainda tem 1,5 milhão de desabrigados pelo terremoto. Motins contra os soldados estrangeiros no norte do país acabaram atrapalhando os trabalhos das autoridades sanitárias.
A cepa presente no Haiti é muito semelhante à que circula no sul da Ásia, o que gerou a suspeita de que soldados nepaleses tivessem levado a doença, algo que a ONU nega.
O cólera se espalha quando a bactéria tem contato com a água, geralmente via dejetos humanos.
O Haiti não tinha casos do cólera havia quase um século, mas especialistas alertam que ele tinha condições quase perfeitas para desenvolver a doença: falta de saneamento, pessoas obrigadas a defecar ao ar livre, cidades populosas, chuvas torrenciais e falta do acesso a água tratada.
Testes genéticos feitos com bactérias encontradas em doentes reforçam a tese de que a epidemia no país tem uma única fonte, segundo os cientistas.
Esta pandemia, de acordo com eles, teria começado há 49 anos na ilha de Sulawesi, na Indonésia, e foi a mais longa e mais ampla da história.
‘O rumo da epidemia de cólera no Haiti é difícil de prever’, concluíram os pesquisadores. ‘A população haitiana não tem imunidade pré-existente ao cólera, e as condições ambientais no Haiti são favoráveis à sua contínua difusão.’
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), houve em 2009 um total de 221.226 casos confirmados de cólera no mundo, com 4.946 mortes, em 45 países. Mas há suspeitas de que o número real seja bem superior.
Confrontos – Várias centenas de jovens haitianos atacaram os capacetes azuis da ONU com pedras e levantaram barricadas no centro de Porto Príncipe, durante uma manifestação motivada pela epidemia.
Os jovens atacaram os soldados da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah) que se encontravam atrás de uma caminhonete descoberta.
Os manifestantes, que se reuniram na praça do Campo de Marte, bem perto do Palácio presidencial, gritavam slogans em creole tais como “A Minustah nos trouxe o cólera”. Um cartaz em creole também indicava “A Minustah joga excrementos na rua”. Os jovens tentavam chegar até a sede da missão da ONU.
Um homem morreu na véspera por disparos, e várias pessoas ficaram feridas depois de choques entre capacetes azuis e manifestantes em Cap-Haitien, norte do país.
República Dominicana – A República Dominicana restringiu o controle migratório em sua fronteira com o Haiti em um esforço para evitar a propagação da doença, informaram as autoridades dominicanas nesta quinta-feira.
O governo do presidente Leonel Fernández ordenou que se impeça que os haitianos voltem à República Dominicana após visitar seu país e suspendeu temporariamente a contratação de nova mão-de-obra haitiana, para o qual reforçou a vigilância militar na fronteira de cerca de 400 quilômetros de extensão.
A medida é acompanhada por controles sanitários severos e pela suspensão do ativo comércio informal fronteiriço, adotados logo depois da detecção do primeiro caso de cólera no haitiano Wilmo Lauref, de 32 anos, após uma viagem de férias em outubro a seu país.
Quando ele retornou à República Dominicana, em 12 de novembro, apresentou sintomas da doença e desde então permanece isolado num centro hospitalar da cidade de Higuey, 147 quilômetros a leste de Santo Domingo. (Fonte: G1)