Os ancestrais do homem passaram muito frio na Europa por centenas de milhares de anos por não saberem ainda controlar o fogo, argumentam dois pesquisadores. Eles concluíram que o uso habitual do fogo só começou entre 400 mil e 300 mil anos atrás – contrariando a hipótese tradicional de que fogueiras controladas teriam sido fundamentais para colonizar o continente quando os hominídeos deixaram sua terra de origem, a África.
Os pesquisadores Wil Roebroeks, da Universidade de Leiden, Holanda, e Paola Villa, do Museu da Universidade do Colorado (EUA), também lançam dúvidas sobre as alegações de que seres humanos já usavam fogo na África de modo regular desde 1,6 milhão de anos atrás. Essa inferência é a base da chamada hipótese do “macaco cozinheiro”, que liga o crescimento do cérebro humano ao combustível trazido pela comida cozida, considerada mais nutritiva.
“Nossos dados, com base em uma revisão de centenas de sítios europeus, sugerem que os antigos seres humanos foram capazes de sobreviver mesmo no clima mais frio da Europa sem o uso habitual de fogo”, diz Villa.
Foram checados 141 sítios arqueológicos com idades variando de 1,2 milhão a 35 mil anos, segundo os autores descrevem em artigo na revista científica “PNAS”. “As evidências de fogo vêm de cinzas e carvão, que são facilmente destruídos, mas também de ossos e artefatos de pedra queimados, que se preservam bem e são comuns em sítios arqueológicos”, afirma a pesquisadora italiana radicada nos EUA. Ela e seu colega lembram que, nos sítios da África Oriental com idades entre 2 milhões e 1 milhão de anos, há milhares de ossos e artefatos, e ficou claro que esses humanos primitivos comiam carne. “Mas não há nem ossos nem artefatos queimados”, afirma Villa.
Como explicar a longa sobrevivência na gelada Europa (a partir de 1 milhão de anos atrás) sem fogueiras? “Um estilo de vida muito ativo e uma dieta com muita proteína podem ter aumentado a taxa metabólica dos hominídeos como uma adaptação fisiológica ao frio. Embora o significado energético de cozinhar o alimento seja claro, o consumo de carne crua e de recursos aquáticos por caçadores-coletores é bem documentado”, escreveram os cientistas na “PNAS”. (Fonte: Ricardo Bonalume Neto/ Folha.com)