Uma nova metodologia da genética forense poderá ajudar, por meio da identificação de variações no genoma que caracteriza cada uma das espécies, a inibir a caça do peixe-boi.
Os peixes-bois chegam a pesar até 800 quilos, são considerados inofensivos e se alimentam de algas, aguapés e capim-aquático. Existem quatro espécies do animal no mundo, duas das quais estão presentes no Brasil.
O peixe-boi-marinho (Trichechus manatus), comum no Norte e Nordeste, é considerado pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN, sigla em inglês) e pelo Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, do Ministério do Meio Ambiente, como criticamente ameaçado de extinção no país.
O peixe-boi-amazônico (Trichechus inunguis) é o menor de todos e a única espécie da ordem Sirenia que habita águas doces. Atualmente, sua classificação na IUCN e no Livro Vermelho é “vulnerável”.
O novo estudo utilizou a técnica de identificação de poliformismos do DNA mitocondrial, considerada uma das mais eficientes para a identificação de exemplares de espécies diferentes.
Como o polimorfismo genético, isto é, a variação das mutações do DNA, é muito grande, pode-se identificar um animal com base no seu padrão de polimorfismo. Com a identificação, órgãos fiscalizadores poderiam saber se uma determinada carne ou pele à venda em um mercado é de um peixe-boi ou de uma espécie doméstica cuja comercialização é legal.
Para saber onde essas mutações ocorrem, os cientistas utilizam uma técnica chamada de polimorfismo de comprimento de fragmento de restrição (RFLP, na sigla em inglês), que “marca” o DNA apenas onde existem determinadas sequências de nucleotídeos.
“A marcação molecular por RFLP e PCR [reação em cadeia da polimerase] é um método confiável e de baixo custo para a identificação de mutações específicas em espécies”, disse o coordenador da pesquisa, Rodrigo Augusto Torres, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), à Agência FAPESP.
O estudo foi publicado na revista Zoologia, da Sociedade Brasileira de Zoologia, em artigo assinado por Torres e os colegas Paula Braga Ferreira e José Eduardo Garcia, também da UFPE.
Segundo Torres, a ideia é que o protocolo desenvolvido possa ser utilizado no desenvolvimento de ferramentas forenses capazes de identificar, por meio da análise de fragmentos de tecido, a identificação de uma carne, pele ou gordura comercializados em um mercado, por exemplo. Com essa identificação genética, um órgão fiscalizador poderia saber se o produto deriva de gado bovino ou suíno ou de um peixe-boi.
“Como esses animais são caçados e depois vendidos aos pedaços, nossa proposta é tornar possível a identificação das espécies por meio das variações genéticas e evitar que esse comércio continue ocorrendo”, completou Torres.
“O estudo reforça a importância dos polimorfismos como um marcador poderoso para a identificação de espécies, que poderão ser particularmente úteis para os esforços de preservação de animais ameaçados”, disseram os autores. (Fonte: Mônica Pileggi/ Agência Fapesp)