O terremoto de magnitude 8,8 que atingiu o Chile, em fevereiro de 2010, foi o sexto mais intenso já registrado por sismógrafos, e também o primeiro grande tremor de terra a ocorrer numa região repleta de estações do Sistema de Posicionamento Global, o GPS. Analisando a posição das estações chilenas antes, durante e depois do tremor, cientistas obtiveram informações sobre o fenômeno com um grau inédito de precisão.
“Os sismógrafos normais medem a velocidade do solo e são calibrados para registrar tremores pequenos, porque esses são mais comuns que os grandes”, explicou ao iG o pesquisador francês Christophe Vigny, principal autor do trabalho que analisou os dados de GPS relativos à catástrofe chilena, que causou cerca de 500 mortes. “Quando um terremoto grande ocorre, os sismógrafos normais ficam saturados e não medem as ondas sísmicas corretamente”.
Outros equipamentos, complementares aos sismógrafos, também acabam tendo seus dados comprometidos, diz Vigny. Imagens de satélite, por sua vez, têm utilidade limitada. “Já o GPS oferece uma medida direta do deslocamento do solo, sem necessidade de grandes cálculos ou risco de saturação”.
O posicionamento global também permite avaliar a deformação de uma área em escalas de tempo que podem ir de segundo a segundo, minuto a minuto ou, até, em intervalos de anos. “Assim, pode-se ver quando alguma coisa muda em algum lugar”.
Além dos dados das estações de GPS no Chile, o trabalho de Vigny também usou bases de GPS do Brasil, Guiana Francesa, Argentina e das Ilhas Galápagos – em áreas que não foram afetadas pelo tremor – para gerar um quadro de referência fixo, dentro do qual ocorreram os deslocamentos causados pelo terremoto.
Entre os resultados obtidos a partir desta análise, está a conclusão de que o epicentro – o ponto de origem – do tremor estava localizado, de fato 40 km a sudoeste do local apontado em relatórios anteriores.
Vigny diz que as mesmas técnicas, baseadas em posicionamento global, já estão sendo aplicadas ao terremoto que atingiu o Japão, em março deste ano. “Os japoneses têm centenas de estações de GPS”, destaca.
“Mas há dois problemas”, ressalva. “Primeiro, muita água. A falha geológica está mais distante da costa do que no Chile, o que significa que a estação mais próxima está mais longe do epicentro. Segundo, o ponto de referência, imóvel em relação ao tremor, é mais difícil de achar: não há estações de GPS no mar entre o Japão e a China”.
O estudo do terremoto chileno aparece na edição desta semana da revista Science. (Fonte: Carlos Orsi/ Portal iG)