A Europa pode estar começando a mergulhar sob a África, dando origem a uma nova zona de subdução com o potencial de aumentar o risco de terremotos no Mediterrâneo ocidental, informam cientistas.
Zonas de subdução formam-se quando placas tectônicas colidem, com uma placa mergulhando por baixo da outra e no manto terrestre. Às vezes essas colisões são graduais, as frequentemente elas ocorrem em grandes saltos que podem desencadear terremotos.
Como as zonas de subdução geralmente se localizam no leito marinho, terremotos nessas áreas podem causar tsunamis, como o que devastou parte do Japão em março.
Por milhões de anos, a placa Africana, que contém parte do leito do Mediterrâneo, vem se deslocando para o norte, rumo à placa eurasiana, numa taxa de cerca de um centímetro ao ano.
Agora, estudos de terremotos recentes na região indicam que uma nova zona de subdução pode estar se formando onde as placas se encontram, ao longo da csota da Argélia e do norte da Sicília.
“A formação de novas zonas de subdução é muito raro”, disse o líder do estudo, Rinus Wortel, geofísico da Universidade de Utrecht, na Holanda.
Mudança de papéis – De acordo com Wortel, a situação oposta existia há cerca de 30 milhões de anos, quando a placa africana estava mergulhando sob a eurasiana, ao longo de uma ampla zona de subdução ao longo do Mediterrâneo ocidental. Ali, as rochas densas do leito marinho africano estavam sendo arremessadas sob a placa europeia.
Ao longo de milhões de anos, a África deslocou-se tão ao norte que nada do leito marinho ligado á placa restou na região. Tudo o que ficou foram as rochas do continente, que são mais leves que o leito marinho e não mergulhariam, disse ele.
Mas as placas continuaram a convergir, acumulando tensões tectônicas. Parte dessa tensão foi aliviada quando a placa eurasiana se dobrou para produzir as cordilheiras dos Alpes, do Cáucaso e de Zagros.
Com base na localização e nos movimentos de tremores recentes ao longo dos limites da placa, a equipe de Wortel acredita que a subdução recomeçou – mas, desta vez, com a Europa deslizando para baixo da África.
A nova zona de subdução, anunciada durante reunião da União de Geociência da Europa, em Viena, é uma descoberta estimulante, disse Wortel, porque essas regiões tendem a existir por muito tempo, em termos geológicos.
Risco subestimado? – Outros cientistas estão intrigados pela possibilidade de uma nova zona de subdução, mas mantêm-se cautelosos.
“Não ouvi a palestra, mas é perfeitamente plausível”, disse Seth Stein, professor de Geofísica da Universidade Northwestern (EUA), por e-mail. Por exemplo, outras partes da região do Mediterrâneo – como a Itália continental – têm assistido a mudanças nos últimos dois milhões de anos, declarou.
Mas decifrar essas mudanças é um processo muito complexo, disse Chris Goldfinger, diretor do9 Laboratório de Tectônica Ativa e de Mapeamento do Leito Marinho da Universidade Estadual do Oregon (EUA).
“Eu teria de passar uma semana com os dados antes de poder opinar se eles têm algum valor”, disse.
O líder do estudo acrescentou que a formação de uma zona de subdução é um processo lento: “Acontecem numa escala de tempo de vários milhões de anos”.
Por exemplo, disse, a maioria das zonas de subdução estabelecidas são marcadas por gigantescas trincheiras submarinas. Uma trincheira semelhante deve se formar no Mediterrâneo – mas não de um dia para o outro.
Wortel acredita que os dados podem implicar que o risco de terremoto no oeste do Mediterrâneo vem sendo subestimado, e pode estar aumentando.
“Normalmente, não é considerada uma região de enorme atividade sísmica, não da magnitude que vimos no Japão”, declarou Wortel.
Esse pode ser um caso de complacência histórica. “Só porque algo não aconteceu em centenas de anos, não quer dizer que não exista risco”.
De fato, lembrou, 70.000 pessoas morreram em Messina, na Itália, em 1908, quando um terremoto de magnitude 7,1 causou ondas com altura estimada de 12 metros.
E um dos mais devastadores terremotos da história europeia ocorreu a oeste do Gibraltar em 1755, lançando uma onda gigante sobre Lisboa e matando, segundo algumas estimativas, mais de 100.000 pessoas. (Fonte: Portal iG)