O colombiano Manuel Elkin Patarroyo, que criou a primeira vacina sintética contra a malária, lamentou nesta segunda-feira (30) “a ausência” de políticas de Estado para impulsionar a ciência na América Latina.
“Ficamos 40 anos movimentando a ciência na Colômbia. Quarenta anos! Comecei muito cedo, mobilizando o país inteiro: ‘Olhe, a ciência é útil, é produtiva, não é uma questão de loucos. Isto é algo que realmente conta para a humanidade, para o país, para as pessoas'”, relatou.
“Eu não digo que seja indiferença, eu diria que é ausência de políticas de Estado para impulsionar a ciência”, avaliou o pesquisador em entrevista à Agência Efe em Madri.
Nesta terça-feira, ele receberá o prêmio Príncipe de Viana da Solidariedade em Navarra, no norte da Espanha.
“Na América Latina, há dois países que se sobressaem, que são México e Brasil, e só”, lamentou Patarroyo, que acaba de apresentar a descoberta de princípios químicos a partir dos quais é possível criar vacinas sintéticas contra praticamente todas as 517 doenças infecciosas conhecidas.
A descoberta, “resultado de 33 anos de trabalho”, são “regras de jogo definidas” que servirão para prevenir doenças, entre elas a malária, a tuberculose, a hepatite e a dengue, que causam milhões de mortes no mundo.
Vacinas em desenvolvimento – O cientista trabalha agora na segunda geração desta vacina, denominada Colfavac, que deve começar a ser testada em junho de 2012 em humanos, após obter “pouco mais de 90%” de proteção em macacos, o “mesmo resultado” que Patarroyo acredita que obterão em homens e mulheres.
“Nós não estamos pulando do rato ou do coelho aos humanos. Estamos pulando de um único animal, que tem um sistema de defesa praticamente idêntico ao humano, ao humano”, explicou.
O cientista revelou que não vai ceder sua nova vacina contra malária à OMS (Organização Mundial da Saúde), como fez com a primeira, “porque a OMS a arquivou, simples e ingenuamente”.
Ele afirmou que conta com o apoio de um grupo de pessoas que “está querendo criar um consórcio para produzir a vacina e entregá-la de graça ou a baixo custo à humanidade”.
Os testes da nova vacina demandarão “de dois a três anos”, o que proporcionará tempo para que trabalhe em outras vacinas.
“Já estamos trabalhando fortemente em tuberculose. É a próxima”, relatou Patarroyo, que, apesar das conquistas alcançadas, destacou que “há muito” por fazer até que “se consiga vacinar todas as pessoas”. (Fonte: Folha.com)